Imagine o seguinte cenário: Aécio Neves, acusado de ter “pedalado” dezenas de bilhões de reais do orçamento público em fraudes fiscais causadas pelo seu descontrole financeiro, somado a terríveis denúncias relativas ao tráfico de influência de FHC junto a empreiteiras e bancos de investimento, tem seu mandato posto à prova diante de um pedido de impeachment protocolado na câmara dos deputados por juristas de renome, com amplo apoio popular.
Pressionado pelas maiores manifestações populares da história do país, não existe saída para o mineiro. Ele assiste com temor a chegada do dia 13 de Dezembro, data em que o Movimento Passe Livre convoca mais uma rodada de manifestações ao redor do país.
Como seria a cobertura dos jornais neste caso? Quantas vezes as lideranças da UNE, do “Juntos!” e do Passe Livre teriam ido à GloboNews? Quantas inserções ao vivo no Jornal Nacional mereceriam? Como iria se comportar Jô Soares sobre o caso? Seriam eles vítimas de acusações espúrias, como a de que recebem dinheiro de grandes fundações americanas como a Ford e a Open Society? Como seria a cobertura dos dias que “antecedem essa grande festa da democracia”?. Estaria Ana Maria Braga ansiosa? E Elio Gaspari? Faria ele comparações heróicas com a resistência democrática durante os anos de chumbo? Caetano vestir-se-ia de manifestante? Chico escreveria uns versinhos? Teríamos especiais da Folha de SP, com infográficos maneiros e entrevistas sobre a visão de mundo desses jovens iconoclastas?
A resposta todos sabem. O ano de 2015, além de ser marcado pelo surgimento de uma oposição civil difusa e organizada, livre das amarras de velhas instituições ultrapassadas, como UNE, OAB e CUT, será lembrado também pela derrocada moral da imprensa brasileira. Folha, Estado, O Globo, Zero Hora, O Povo, e congêneres escancararam ao longo do ano a triste realidade de suas redações, tomadas por militantes travestidos de jornalistas que executam uma cobertura de má fé dos fatos políticos novos e excitantes que estão mudando a cara do país.
Sua ação varia do mais absoluto escárnio até o silêncio total. Durante a Marcha que o MBL fez até Brasília tivemos mais cobertura de veículos de imprensa internacionais do que da imprensa local.
Quando ficamos um mês acampados em frente ao Congresso nacional, Folha de São Paulo e Estadão foram para lá única e exclusivamente para filmar uma peça de costela sendo assada num braseiro. O Globo publicou, mentirosamente, que um policial armado com vasto arsenal estava acampado junto a nosso grupo.
Para coroar, na semana em que organizamos o primeiro dos protestos após o início do processo de impeachment, recebemos apenas 4 ligações: todas para saber quantos pixulecos vendemos, se o dia 13/12 é uma referência ao AI-5 e outros detalhes menores (e bizarros) que não condizem nem um pouco com o momento político do país.
Não estamos aqui para fritar a imprensa, exigir sua “democratização” ou jogar lixo na porta das suas redações. Não estamos aqui para levantar ilações sobre seus proprietários. Queremos apenas que cumpram seu papel fundamental junto à nossa geração, como fizeram nas gerações de nossos pais e avós. Onde estão os editoriais indignados das Diretas Já, do Fora Collor? Onde está o compromisso com o leitor, que estará conosco nas ruas dia 13/12 pedindo a saída do governo mais corrupto de nossa história? Não vimos nada disso até agora. Aguardamos que a sensatez e o espírito do tempo voltem a circular dentro das já desgastadas redações de nossos jornais. E que a história lá contada seja de fato História, e não caprichos de militantes da pena.
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