Globo X Lula

Em 1989, na reta final do 2o turno da eleição presidencial, a Rede Globo realizou uma edição do último debate eleitoral para apresentar no Jornal Nacional, e o que foi ao ar mostrava somente os momentos em que Collor foi bem e os momentos em que Lula foi desastroso.

O livro O Que Sei de Lula, de José Neumanne Pinto, trata do assunto, e na página 213 há um depoimento (de 2004) de Ronald de Carvalho, o funcionário da Globo que à época realizou a edição. Transcrevo um trecho:

"Não mudaria uma imagem, não alteraria nenhum áudio, não suprimiria uma frase sequer. Diferentemente do julgamento que as pessoas fazem dos fatos embaçados pelo tempo, não tenho dúvidas de que a edição que executei para o Jornal Nacional estava rigorosamente correta."

De fato a memória é falha, e tendemos a lembrar com imprecisão o que de fato ocorreu. Mas vou recordar fatos (não memórias) que ilustram bem a reação imediata que tive ao que assisti no Jornal Nacional. É preciso ressaltar, para quem ainda não sabe, que sou anti-lulista convicto.

- O que foi apresentado no Jornal Nacional daquela noite de dezembro de 1989 me encheu tanto de nojo, que não bastou desligar a televisão. Desliguei, desci do apartamento, fui até a calçada e fiquei olhando para o nada, com raiva do que tinha acabado de ver, com raiva pela minha impotência, com raiva do monopólio da Globo sobre a verdade. Foi a única vez que vida que tive uma reação assim, nas demais vezes que discordo do que estou assistindo, me contento em desligar a televisão.

- Votei em Lula.

Acredito que o que a Globo fez contra Lula naquela noite é mais ou menos o que ela faz a favor de Lula desde que ele vestiu a faixa presidencial. E agora a favor de Dilma. A Globo é um instrumento de criação de uma realidade paralela artificial, sempre no interesse do governante de turno, ou de uma de suas crias, como era o caso de Collor.