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quinta-feira, 4 de outubro de 2012

Dinheiro

Minha esposa foi a uma consulta médica ontem e, durante a consulta, a doutora informou que num dos próximos meses os médicos ficarão 15 dias sem atender pacientes de planos de saúde, como forma de protestar contra os valores pagos pelas operadoras. Segundo a doutora, "as operadoras de plano de saúde pagam uma miséria aos médicos, e ficam com todo o lucro". Infelizmente minhas esposa não lembrou de perguntar à doutora qual o lucro da UNIMED, uma cooperativa que têm como cooperados os próprios médicos.

Nos meus piores pesadelos eu consigo até me imaginar petista. Mas nunca tive um pesadelo tão terrível onde eu me imaginasse médico. Se tivésse tal pesadelo, seria assim: eu com o meu peito estufado, todo orgulhoso da minha formação médica. Aí chega o coitado às portas da morte, implorando por socorro e eu, médico, respondo - só te salvo se me pagar". É mais ou menos como o assaltante que grita: "a bolsa ou a vida!". Espero nunca ter este pesadelo, prefiro sonhar que sou petista e eleitor do Lula ... é menos aterrorizante.

Não sei qual o tamanho do lucro das operadoras de plano de saúde, mas imagino que não deve ser um negócio fácil no Brasil. Brasileiro é hipocondríaco, somos o único país do mundo com uma farmácia em cada esquina. Brasileiro vive indo no médico (minha empresa, por exemplo, parece um hospital, o povo vive doente e de atestado). Para fechar a equação, somos um país pobre, e há limites nos valores que as operadoras podem cobrar pelos planos.

Mas meu ponto neste texto é outro - se resumirmos tudo na vida a dinheiro, nossa sociedade virará um caos. Cada um de nós, eu inclusive, acredita que somos merecedores de todo o dinheiro do mundo. E se de alguma forma algum de nós conseguisse ter todo o dinheiro do mundo, imediatamente acharíamos que é pouco. Desta forma, é impossível satisfazer o ser humano lhe dando dinheiro. Muito menos um médico, que tem a chave para a vida ou para a morte, sendo a vida nosso bem mais precioso.

Por mais honorário que se pague a um médico ele sempre vai achar que é pouco, que é menos do que merece.

Por mais salário que se pague a um professor ou um funcionário público, ele sempre vai achar que é pouco, que é menos do que merece.

Em sendo assim, nos transformaremos numa sociedade de grevistas insatisfeitos, sempre querendo mais.

Para equilibrar isso é preciso ter alguma satisfação com o que se faz. Se a satisfação, a vocação, sai da equação, e fica só o dinheiro, está estabelecido o caos social.

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