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quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

Do Reinaldo Azevedo

Não tem jeito! É parte essencial do pensamento totalitário — pouco importa de matriz (e matiz) esquerdista ou direitista — desumanizar o outro, transformá-lo em “coisa”, reduzi-lo à mera condição de tudo aquilo que se odeia e que se considera o “mal” para, então, eliminá-lo. Para calar o adversário — antes de chegar à fase do extermínio —, é preciso que ele seja expropriado de sua humana complexidade, reduzi-lo ao protótipo da besta. Assim, no passado, humanos foram reduzidos “a judeus apátridas e conspiradores”. Ora, matar judeus pode chocar alguns, mas parece razoável eliminar apátridas e conspiradores. Assim, no passado, adversários políticos foram reduzidos a agentes da reação e das forças do capital. Ora, matar adversários pode chocar alguns, mas parece razoável eliminar agentes da reação e das forças do capital. No Brasil mesmo, como se sabe, simples críticos do regime foram transformados em agentes de “ideologias exóticas, que perturbam a paz”. Ora, matar críticos do regime pode chocar alguns, mas parece razoável eliminar agentes de ideologias exóticas, que perturbam a paz.
 
O grande diferencial da democracia, e é esta a sua exceção ética — que não se repete em nenhum outro modelo — , é a admissão da legitimidade do “outro”, de quem não pensa como penso, de quem tem entendimento diverso da realidade e tenta fazer valer as suas ideias pelo convencimento. Mas não! Nem tudo é aceitável numa democracia: é preciso coibir, por exemplo, as práticas que a solapem. Quem tenta calar os outros na base do berro, da imposição, da violência, não está exercendo um “direito democrático”, como afirma Breno Altman, mas praticando o argumento da força. O que impressiona no pensamento desse senhor não é o fato de ele ignorar isso tudo, mas o fato de ele saber disso tudo.

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