Adeus John Grisham

Fui um leitor fiel de John Grisham por mais de 20 anos. Li todos os seus livros, com exceção apenas de Dossiê Pelicano e A Firma, dos quais vi os filmes.

Gostei muito de alguns dos seus livros, como O Sócio e Os Litigantes. Gostei mais ou menos de outros, como Sykamore Row e O Manipulador. E alguns, como Câmara de Gás, achei chatos. Mas fui fiel.

Estava lendo seu mais recente lançamento (Gray Mountain), e já o estava incluindo na relação dos chatos até o ponto em que havia lido. O livro trata das empresas de mineração de carvão e os crimes ambientais por elas cometidos neste processo. Lá pelas tantas uma advogada está num mirante mostrando para sua estagiária a destruição causada nas montanhas da região, quando a advogada jovem, revoltada, diz algo como: "isto tem que ser ilegal, precisamos pará-los na justiça", ao que a advogada mais velha responde algo como: "Nós sempre tentamos, mas as empresas são muito poderosas. Até tivemos algumas vitórias em primeira instância, mas as decisões são sempre revertidas nas cortes superiores, dominadas por juízes indicados pelo Partido Republicano".

Minha fidelidade de mais de 20 anos acabou instantaneamente, ali naquela linha. Não houve nem um processo para decidir se eu daria um tempo e seguiria lendo, se pularia mais para a frente, nada. A reação foi instantânea, fechei o livro e o abandonei. E não terei mais estômago para ler os próximos. Sou simpatizante do Partido Republicano, e Grisham me ofendeu profundamente.

Grisham qualificou os republicanos como incentivadores da destruição do meio ambiente e/ou corruptos. A história deste livro se passa em 2008. Quando escrever uma história que se passe em 2015, com os tribunais superiores dominados por juízes indicados pelo partido democrata, Grisham os descreverá como santos.

Incrível como a ideologia vai ocupando todos os espaços e, neste processo, acabando com os prazeres que temos na vida. Mesmo prazeres de tantos anos, como este.