segunda-feira, 2 de julho de 2012
É proibido pensar
Na história recente da humanidade, proibições e liberações são cíclicas. Por exemplo, já houve época em que era proibido beber Coca-Cola, e aqueles que desejavam fazê-lo precisavam adquirir o produto de traficantes e consumir clandestinamente.
Já houve período em que o consumo de bebidas alcoólicas foi permitido. Depois, nos EUA, proibiram (lei seca). Depois, liberou geral, e a série Mad Men, que se passa nos anos 60, mostra que os executivos americanos passavam seus dias enchendo a cara nos próprios escritórios. Atualmente, com diversas restrições pontuais de consumo, novamente fecha-se o cerco.
Tabaco sempre foi permitido. Mas as restrições são tantas e crescentes, que fica cada vez mais difícil consumi-lo. Talvez em algum momento futuro o consumo de tabaco seja definitivamente proibido, para um dia voltar a ser permitido. Enquanto o tabaco estiver proibido, os fumantes terão que se contentar com maconha, ora proibida, pois é cada vez maior o lobby dos descolados pela liberação da substância. Já conquistaram defensores até nas altas esferas do poder.
Os “bikers” contam com a proibição dos carros.
Os motoristas desejam a proibição das motos.
Mas quis o destino que eu vivesse minha idade adulta numa época em que é proibido pensar, e eu não fui preparado para isso. Posso viver sem Coca-Cola, sem álcool, sem cigarro, e até sem maconha, mas não consigo viver sem pensar.
Ao contrário de outras proibições, a proibição de pensar não foi estabelecida através de um texto legal. Foi estabelecida por mera conveniência e acomodação social.
Aqueles que ainda são capazes de pensar por conta própria se tornaram inconvenientes, e são progressivamente (sem trocadilho) excluídos socialmente, sendo que esta exclusão funciona como uma pressão social para que parem de pensar. Se pararem, serão recebidos de braços abertos pelo meio social.
A coisa começa cedo, na escola. Pessoas que jamais poderiam se aproximar de uma sala de aula são professores. Fracos, despreparados, ignorantes e burros, preparam um roteiro medíocre para aquilo que chamam de “aula”. Neste contexto, aquele aluno que é capaz de pensar, de questionar, de avaliar criticamente a informação recebida, é inconveniente, e começa a ser isolado, pelo professor e pelos colegas. Só se dão bem aqueles que se comportam de acordo com o papel reservado para eles no roteiro.
Os que pensam são inconvenientes para as lideranças religiosas.
Os que pensam são inconvenientes para as lideranças políticas.
Os que pensam se tornam inconvenientes nas empresas, pois nestas geralmente o ambiente é dominado pela mediocridade, e os medíocres reinantes percebem o pensante como ameaça. É preciso aliená-lo.
Os que pensam são inconvenientes até para os barões da mídia, que os percebem como ameaça à predominância do lixo cultural que produzem.
Por fim, os que pensam são inconvenientes no ambiente familiar e na vizinhança. Estes ambientes funcionam de acordo com um roteiro não escrito. Este roteiro prevê praticamente tudo. Do que as pessoas devem gostar, o que devem vestir, sobre o que devem falar. Por exemplo, para homens, via de regra, o roteiro prevê que devem falar sobre mulheres, esporte e bebidas, com algumas variantes dependendo do meio social, como pagode, carteado, trabalho, etc... Chegue no grupo com um assunto diferente e, aos poucos, não será mais convidado para o churrasco de domingo, ou para o aniversário do primo.
Numa era em que é proibido pensar, aqueles que insistem em manter seus cérebros ativos estão condenados ao isolamento. Não o isolamento numa caverna, no alto da montanha, mas o isolamento no meio de bilhões. São simplesmente invisíveis.
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