quinta-feira, 5 de julho de 2012
O Plano Real
Nasci em 1969, tomei conhecimento da existência do dinheiro lá por 1974, sempre em função de um diálogo como este:
Eu – “Quero isso”;
Alguém – “Não tenho dinheiro”.
Então logo encarei esse tal dinheiro como um adversário, algo que me impedia de ter as coisas que eu queria.
Com o passar do tempo fui entendendo um pouco mais sobre o dinheiro, e descobri que o bicho até não era tão ruim como eu havia imaginado. Comecei a gostar dele.
Mas bem quando eu comecei a gostar da coisa, descobri que o dinheiro não valia nada. Corroído pela inflação galopante, o dinheiro derretia no meu bolso mais rápido do que gelo no forno. Juntava o meu cofrinho e, quando ia ao banco, o cofre cheio já não valia mais nada.
Adquirir bens era quase impossível.
Em 1989 comecei a trabalhar, e o meu esforço de um mês inteiro de trabalho era pago com nada. Sim, era pago com papel pintado, que nada valia. Na ânsia de tentar preservar um pouco do valor do que eu recebia, corria ao banco no dia do pagamento, sacava tudo, ia direto ao doleiro e comprava dólares, para trocar de volta durante o mês, à medida em que precisasse gastar. Mas uma parte do salário ficava no bolso do doleiro: taxa na compra dos dólares, taxa na venda dos dólares, e a compra era pela cotação do paralelo, coisa que quem tem menos de 30 anos nunca ouviu.
Diversas moedas foram inventadas para tentar domar a inflação. Lembro de algumas: cruzeiro, cruzado, cruzado novo, cruzeiro de novo, cruzeiro real, e por aí vai.
Planos salvadores milagrosos foram experimentados ao gosto do freguês. Lembro de alguns: Plano Cruzado, Plano Verão, Plano Verão II, Plano Bresser, Feijão com Arroz, Plano Collor, etc.
Não era possível planejar nada, nem como seria nossa vida na semana seguinte.
Em 1994, aos 24 anos, depois de ver tantas tentativas fracassadas na luta contra a inflação, eu já estava resignado – teria que conviver com o monstro por muitos anos, quem sabe por toda a vida. Mas eis que em 1º de julho de 1994 o então ministro da fazenda Fernando Henrique Cardoso nos brindou com o Plano Real, e efetivamente domou a inflação.
O PT liderado por Lula, então oposição, fez tudo o que pode para atacar o plano, inclusive entrando na justiça contra ele. Mas naquele momento as autoridades e o judiciário foram mais fortes que a força destrutiva do PT, e o plano sobreviveu ao ataque. Para nossa sorte.
Em 2002 ninguém mais lembrava do Plano Real, muito menos de inflação. E elegeram o adversário do plano – Lula.
Em seus 8 anos de mandato, Lula usou seus discursos e a imprensa comprada para acabar de vez com qualquer lembrança que pudesse existir sobre os acontecimentos de julho de 1994.
Há alguns anos vi uma pesquisa onde a pergunta feita aos entrevistados foi simples: “a inflação antes do Plano Real era maior ou menor do que a inflação atual?” Mais de 60% dos entrevistados responderam: “era menor”.
A missão de Lula, de apagar a história, contou com um aliado extremamente importante – o PSDB. Se perguntarem a um tucano sobre o Plano Real ele responderá que nunca ouviu falar. Se lhe provarem com documentos que o plano existiu, o tucano então dirá: “pode até ter existido, mas não tivemos nada a ver com isso”, e pedirá licença para ir cumprimentar o companheiro petista que está passando ali perto.
No domingo o plano que ninguém lembra completou 18 anos.
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