As praças dos mercados, agora despojadas de mercadorias e consumidores, exibiam apenas a desarmonia da morte. De manhã cedo, o único som era a respiração fraca dos moribundos, envolvidos em trapos que um dia foram roupas. Numa manhã de primavera, em meio a pilhas de camponeses mortos no mercado de Kharkov, um bebê mamava no seio da mãe, cujo rosto sem vida já estava cinza. Os passantes já tinham visto isso antes, não somente aquela confusão de cadáveres, não somente a mãe morta e a criança viva, mas precisamente aquela cena, a boquinha, a última gota de leite, o mamilo enregelado. Os ucranianos tinham uma expressão nessas horas. Diziam a si mesmos, em silêncio, ao passar: “são os rebentos da primavera socialista”.
Pág. 51 de Terras de Sangue, de Timothy Snyder.
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