Quem não sabe que, no
meio acadêmico brasileiro, a receita uniforme, há mais de meio século, é
Marx-Nietzsche-Sartre-Foucault-Lacan-Derrida, não se admitindo outros acréscimos
senão os que pareçam estender de algum modo essa tradição, como Slavoj Zizek,
Istvan Meszaros ou os arremedos de pensamento que levam, nos EUA, o nome de
“estudos culturais”?
Daí a reação de horror
sacrossanto, de ódio irracional, não raro de repugnância física, com que tantos
estudantes das nossas universidades reagem a toda opinião ou atitude que lhes
pareça antagônica ao que aprenderam de seus professores. Não que estejam
realmente persuadidos, intelectualmente, daquilo que estes lhes ensinaram. Se o
estivessem, reagiriam com o intelecto, não com o estômago. O que os move não é
uma convicção profunda, séria, refletida: é apenas a impossibilidade psicológica
de desligar-se, mesmo por um momento, do “eu” artificial aprendido, cuja
construção lhes custou tanto esforço, tanto investimento emocional.
...
A irracionalidade da
situação é ainda mais enfatizada porque o discurso desse personagem o adorna com
o prestígio de um rebelde, de um espírito independente em luta contra todos os
conformismos. Poucas coisas são tão grotescas quanto a coexistência pacífica,
insensível, inconsciente e satisfeita de si, da afetação de inconformismo com a
subserviência completa à autoridade de um corpo docente.
No auge da alienação, o
garoto que passou cinco anos intoxicando-se de retórica
marxista-feminista-multiculturalista-gayzista nas salas de aula, que reage com
quatro pedras na mão ante qualquer palavra que antagonize a opinião de seus
professores esquerdistas, jura, depois de ler uns parágrafos de Bourdieu para a
prova, que a universidade é o “aparato de reprodução da ideologia burguesa”. Aí
já não se trata nem mesmo de “paralaxe cognitiva”, mas de um completo e
definitivo divórcio entre a mente e a realidade, entre a máquina de falar e a
experiência viva.
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