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terça-feira, 5 de junho de 2012

Do Augusto Nunes

"Em março de 2004, no comício de lançamento da campanha Cresce, Nordeste, o presidente Lula prometeu inaugurar em meados de 2006 a transposição das águas do Rio São Francisco. “Muitas vezes a coisa pública foi tratada no Brasil como se fosse uma coisa de amigos, um clube de amigos, e não uma coisa pública de verdade”, desandou na discurseira o enviado pela Divina Providência para materializar o sonho de D. Pedro II e acabar com a seca nos sertões. Em dezembro de 2010, depois de incontáveis adiamentos, o maior dos governantes desde Tomé de Souza jurou que as obras só não ficariam prontas em 2012 se ocorresse uma reedição do dilúvio. A chuvarada bíblica que não veio decerto teria produzido menos estragos que a ação conjunta de governantes ineptos, empreiteiros insaciáveis e intermediários corruptos. Na imagem de Nelson Rodrigues, a imensa constelação de canteiros abandonados tem a aridez de três desertos. Em fevereiro de 2012, a presidente Dilma Rousseff informou que a inauguração prometida para este ano terá de esperar mais dois. Em 2014, pedirá mais paciência aos brasileiros e empurrará para o fim da década, ou do século, o colossal embuste que vem devorando bilhões de reais desde 2003. Mas o comício não pode parar. “Essa obra vai garantir água para todo o Nordeste”, recitou durante oito anos o candidato a D. Pedro III. “A seca vai acabar”, declama Dilma há 18 meses."

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