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domingo, 29 de março de 2015

A loteria da vida

Sempre que brasileiros se reúnem em grupo, seja num estádio, seja numa manifestação de rua, é comum ouvir o tradicional canto: eeeeuuu, sou brasileiiiiiro, com muuuiiito orguuulho, com muuuito amoooooor". Sempre que escuto isso fico pensando - quais seriam exatamente os motivos para termos tanto orgulho de sermos brasileiros? O que fizemos como povo, no passado ou no presente, para sentirmos tanto orgulho? Sinceramente, não sei. E isso não é preconceito, estou disposto a ser convencido se alguém souber a resposta.

Mas na prática, no dia a dia, ser brasileiro significa:

- Viver sob o domínio da ignorância;
- Ser roubado pelo governo, em todos os níveis;
- Pagar os preços mais caros do mundo;
- Jogar diariamente na loteria da vida.

Sim, jogar a loteria da vida. A falta de segurança no Brasil é tão absurda que quando saímos de casa pela manhã não há nenhuma garantia de que voltaremos vivos à noite. Apostamos na loteria da vida diariamente. Sempre que voltamos vivos é porque vencemos a loteria naquele dia, enquanto outros perderam. E nada garante que venceremos novamente no dia seguinte, e no próximo. É um jogo permanente, e cada vez mais as probabilidades estão contra nós.

Na quinta-feira à noite o filho de um dos meus melhores amigos saiu para dar uma volta de bicicleta. Como ele não era político nem artista de televisão, não tinha tempo de fazer academia durante o dia. Seu único momento de fazer algum exercício era no fim do dia, depois de terminar o trabalho. Na 5a feira ele perdeu a loteria da vida e acabou abatido a tiros no meio da rua, por dois vagabundos, que depois fugiram sem consequências.

O filho do meu amigo tinha 35 anos, era casado e deixou órfãs duas meninas ainda crianças.

E qual será a consequência desta tragédia? Além do profundo sofrimento da família, nenhuma. Os vagabundos que cometeram o crime não serão sequer presos. Porque no Brasil os governos e suas polícias se transformaram em organizações feitas para não funcionar. E quem me conta isso são amigos que trabalham como ... policiais.

Nós, brasileiros, os que sentimos tanto orgulho dessa condição, somos um povo tão bunda mole que viramos caça de bandido, estamos sendo abatidos nas ruas, e não conseguimos reagir. Qualquer espécie, mesmo as que não sentem tanto orgulho do que são, preservam pelo menos o instinto de sobrevivência. Nós, os orgulhosos, nem isso temos.

Há 40 anos dificilmente um cidadão de 35 anos saía de casa sem seu revólver. Era um hábito. Naquela época os bandidos precisavam pensar duas vezes antes de atacar um homem de 35 anos, pois poderiam levar a pior. Mas nós, cidadãos de bem, livres, reiteradamente votamos em governos que nos convenceram que armas são coisa do mal, e nos desarmaram. Permaneceram armados apenas os ... bandidos, aqueles que, mais cedo ou mais tarde, vão nos matar. E assim nossos governantes fizeram com que tenhamos que sair às ruas de peito aberto, sem possibilidade de defesa, para não atrapalharmos o trabalho da bandidagem, nem colocarmos em risco suas vidas.

E, como povo bunda mole que somos, seguimos com nossas vidinhas medíocres, como se nada estivesse acontecendo.

Orgulho de que mesmo?

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