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quarta-feira, 26 de agosto de 2015

Jornalismo meia verdade

Sou muito fã da Veja. Mas como o jornalismo é uma profissão em desconstrução, nem a Veja consegue escapar deste processo destrutivo. Veja faz um excelente trabalho na cobertura nacional. Mas seu viés pró-democrata na cobertura internacional arranha (bastante) o trabalho da publicação. Veja, por exemplo, ainda acredita no aquecimento global, e seguirá acreditando enquanto o partido democrata seguir usando a ameaça do aquecimento global como uma de suas bandeiras.

Leiam este trecho da Veja.com. Comento na sequência:

"O pré-candidato republicano à Casa Branca Donald Trump expulsou na noite desta terça-feira de uma entrevista coletiva o conhecido jornalista latino Jorge Ramos, crítico de suas posições sobre imigração. O incidente ocorreu quando o jornalista e apresentador da rede Univisión - um canal americano com muita audiência entre o público latino - participava de uma sessão de perguntas e respostas com Trump transmitida ao vivo por vários canais de TV dos Estados Unidos.
Ramos, que já discutiu com Trump sobre temas como imigração e deportação, se levantou para fazer uma pergunta e foi ignorado pelo magnata, que cedeu a palavra a outro jornalista. Ramos insistiu e Trump se irritou: "desculpe-me, mas o senhor não foi chamado, sente-se". Desconcertado, o jornalista ainda tentou argumentar: "Tenho o direito de fazer uma pergunta". Trump então disse: "Volte para a Univisión"."

Comento: estou nos EUA, desta forma com acesso privilegiado aos fatos. Se eu não estivesse aqui, talvez me contentasse com a versão de Veja. Primeiramente, seria honesto para contextualizar se Veja informasse ao público que o tal jornalista é também um ativista pela anistia dos imigrantes ilegais. E Trump é o candidato que mais se opõe à imigração. Consequentemente, o jornalista/ativista compareceu ao evento mais para confrontar Trump do que para fazer jornalismo. Segundo, a irritação de Trump e sua determinação para que o jornalista/ativista fosse expulso do recinto ocorreu quando o jornalista/ativista, ao invés de fazer perguntas, passou a gritar afirmações como: "você não pode deportar 11 milhões de pessoas", ou "você não pode negar cidadania a crianças". Se o jornalista/ativista quer fazer tais afirmações, que faça no seu programa de televisão. Ou que lance sua candidatura à presidência.

Tenho visto muitos que são contra Trump, incluindo este jornalista/ativista, dizendo que com suas propostas Trump vai perder o eleitorado hispânico e, consequentemente, a eleição. Trump, que é inteligente, até o momento não teve a sacada de responder a essas pessoas da seguinte forma: "que bom para você, que é contra a minha candidatura e as minhas propostas, se eu estou dizendo coisas que me farão perder a eleição. Qual o seu problema com isso, então?".

Tenho acompanhado a corrida presidencial por aqui, e muito, mas muito, se discute, sobre o eleitorado hispânico, quem vai ganha-lo, quem vai perde-lo. Alguns chegam a dizer que com Trump o partido Republicano perderá o eleitorado hispânico por gerações. Será que tanta discussão se deve ao fato de que concluíram que o "eleitorado americano" já não fede nem cheira? E assim a eleição americana precisa ser tratada como se estivesse sendo disputada no México? Ninguém ainda teve a sacada de fazer esta observação no debate.


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