"Vi no Jornal da Globo que o cineasta Lars von Trier arrumou confusão em Cannes, onde promovia seu novo filme, "Melancolia". Lá pelas tantas, depois das perguntas de praxe sobre isso e aquilo da película, questionaram o diretor acerca de declarações dele sobre o nazismo.
"Eu entendo Hitler. Claro que ele fez algumas coisas erradas, mas eu entendo o homem, simpatizo um pouco com ele. Não pela Segunda Guerra. Não sou contra judeus. Mas os israelenses são um pé no saco... Como posso sair dessa agora? OK, eu sou nazista".
Não dava pra saber com certeza se ele falava sério ou debochava. Na volta ao estúdio do JG, Christiane Pelajo tinha um semblante de reprovação, com direito a balançada de crânio para assinalar o desgosto. O festival de Cannes o declarou persona non grata. Poucas horas depois von Trier já estava se desculpando: "Se eu ofendi alguém, peço desculpas sinceras. Não sou anti-semita ou racista de qualquer maneira, e muito menos nazista".
O socialista Hitler matou uns seis milhões de indivíduos. O ultraje do comentário é compreensível, portanto. Mas a reação do show business seria totalmente outra se von Trier tivesse apresentado uma outra credencial: se tivesse dito que é comunista.
É fato repetidamente demonstrado no mundo das artes que louvar o matador de seis milhões é feio, mas louvar os matadores de cem milhões é bonito. Recordem, por exemplo, as loas a José Samarago. Não saiu uma só matéria na ocasião de sua morte que não destacasse seu currículo de comunista. "Defensor das causas sociais". "Lutou contra as injustiças". "Escritor engajado".
Defendia o regime do genocídio, da fome deliberada (pesquisem o que Stalin fez com a Ucrânia), do Gulag, do crime de opinião, da polícia política, da ideologia compulsória, do fuzilamento dos "inimigos do povo". Mas foi um homem preocupado com o bem da humanidade até o fim. Como disse o site da Globo, "Saramago uniu a atividade de escritor com a de homem crítico da sociedade, denunciando injustiças e se pronunciando sobre conflitos políticos de sua época".
Lars von Trier perdeu uma bela oportunidade. Imaginem a cena. Ele divaga sobre a nova obra, faz trejeitos inteligentes e, depois de um gole de champanhe, comunica aos repórteres, em tom ligeiramente sofrido: "Esse filme reflete o que eu sou. É um libelo contra as injustiças. Sou um comunista libertário. Aliás, tenho sido vítima do macarthismo de Hollywood". Não haveria mãos em Cannes para tanto aplauso. O filme logo se tornaria forte candidato à Palma de Ouro. Os cadernos culturais teriam um novo queridinho."
quarta-feira, 25 de maio de 2011
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário