Conheci uma empresa onde atua um gentleman. O gentleman é figura crucial em determinados processos da empresa. O gentleman é conhecido como conciliador, todos se sentem à vontade na sua presença, ele realmente transmite a impressão de que entende seu problema, concorda com você, e que vai tentar ajudá-lo como puder, enfim, que você pode contar com ele, na extensão do que ele puder fazer.
Aí o gentleman vai te envolvendo, faz reuniões, diz que está trabalhando pelo seu interesse, mas que não está fácil, que ele também discorda das atitudes dos seus superiores, etc., mas que ele não pode se opor a eles abertamente. Aí ele diz algo como: “olha, se você ceder neste ou naquele ponto vai facilitar o meu trabalho de convencer os diretores a respeito do seu pleito.” O interlocutor, envolvido pelo gentleman, cede feliz “neste ou naquele ponto”.
Aí as reuniões vão se sucedendo, o gentleman é cada vez mais um cruzado da sua causa, e vai sempre pedindo para você ceder num ponto ou outro para facilitar a atuação dele na defesa do seu interesse.
Ao final do processo você termina na lona, a empresa do gentleman consegue empurrar na sua garganta tudo que efetivamente desejava empurrar desde o início, mas você sai do processo agradecido ao gentleman por ele ter se esforçado e se sacrificado tanto na tentativa de defender o seu interesse, colocando em risco o próprio emprego. Os outros é que foram malvados.
Uma vez eu estava em uma mesa de negociação e, por uma fração de segundos, o gentleman se descuidou e permitiu que sua máscara caísse, e o que vi por trás da máscara foi alguém implacável, disposto a qualquer coisa pelo atingimento dos seus objetivos, totalmente desprovido de preocupação com o outro lado. Infelizmente naquela fração de segundo apenas eu estava olhando para o gentleman, que logo recompôs sua máscara.
Me parece que Palocci é o gentleman do governo. Aquele a quem cabe amaciar os adversários para que permitam que o PT faça tudo o que quiser fazer com o país, a vasilina que reduz a dor do processo. Mas, por trás da cara de bobo, está um homem implacável, disposto a tudo, a passar por cima de todos, a não medir conseqüências no seu papel de soldado de um projeto político. Ao final os outros (nós) estarão na lona, mas agradecidos ao gentleman.
segunda-feira, 23 de maio de 2011
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