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segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Mentirosos perigosos

Narro aqui a história de um drama familiar.

Meu avô materno nasceu no interior, de família humilde, teoricamente sem muita perspectiva de crescimento profissional. Mas ele nunca se conformou com isto. Sempre se esforçou, trabalhou desde cedo, exerceu várias atividades distintas e, tão logo quanto pôde, se mudou para Porto Alegre para estudar.

Acabou se formando em economia, administração de empresas e ciências contábeis. 3 cursos superiores. Através de concurso entrou para os quadros do tribunal de contas do RS e, uma vez lá dentro, galgou todos os cargos possíveis dentro da carreira.

No final da década de 1970 meu avô era não só um alto funcionátio do TCE mas, também, professor de economia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul e da PUC RS. Sua vida transcorria em céu de brigadeiro.

Aí ele começou a mentir, e foi mentindo cada vez mais. Primeiro mentiu que tinha mestrado e doutorado, coisa que nunca teve. Hoje este tipo de mentira até daria moral para ele junto a um certo partido político. Aí foi mentindo cada vez mais sobre os seus feitos imaginários, e chegou ao ponto em que mentia que era um rico fazendeiro do pantanal matogrossense e contava os detalhes sobre a sua fazenda.

Até aí ele era apenas um chato, que ninguém mais suportava, e as mentiras lhe custaram o cargo de professor da UFRS e da PUC.

O problema maior surgiu quando ele começou a acreditar nas próprias mentiras. Aí sim a situação se tornou especialmente danosa. Se ele era um grande fazendeiro, precisava de equipamentos agrícolas e gado para sua propriedade. E começou a comprar (financiado) o que havia de melhor no mercado. Os melhores e mais modernos equipamentos, os melhores animais, campeões de exposições rurais. Tudo para uma fazenda que só existia na cabeça dele. Os animais acabaram morrendo de fome. Os equipamentos apodreceram, e os que não apodreceram ele vendeu.

Não podia vender, pois os equipamentos eram garantia dos financiamentos, e ele acabou na cadeia. Ficou 45 dias preso, até que algumas autoridades do estado conseguissem tirá-lo de lá com um plano de desconto mensal em folha do valor da dívida. A perder de vista.

Ele acabou com sua família, acabou com seu patrimônio, acabou com sua moral. E se acabou. Passou a viver quase como um mendigo, ficou sem nenhum dente na boca, usava roupas velhas, rasgadas e, atualmente, está com alzheimer em grau avançado, apenas aguardando a morte. Não sabe nem quem ele é.

Lendo a coluna da JR Guzzo na Veja de ontem reconheci a história acima. Primeiro determinado presidente se tornou um mentiroso compulsivo. Agora, segundo Guzzo, está no estágio em que passou a acreditar nas próprias mentiras. Por experiência, sei que este é o estágio mais perigoso. Meu avô destruiu a si próprio quando passou a acreditar nas suas mentiras. Um homem com poder pode destruir um país todo...

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