Tenho alguns clientes que são proprietários de suas empresas. Nos seus respectivos negócios são (ou deveriam ser) parceiros de algumas grandes corporações multinacionais. A relação, que deveria ser de parceria, acaba sendo de amor e ódio, com um parceiro procurando atrapalhar o andamento do negócio do outro parceiro. Às vezes esses clientes reclamam: “meu parceiro me causa mais problemas que meus concorrentes”, e questionam: “se estamos do mesmo lado da relação, se nosso interesse é o mesmo, por que não conseguimos sentar, conversar, e acertar os ponteiros?”.
Geralmente eu respondo o seguinte: infelizmente vocês não vão conseguir se entender nunca. Você é um empresário, dono da empresa, e está preocupado em fortalecê-la e preservá-la para os seus descendentes. Já do lado de lá, na grande corporação multinacional, mesmo que você converse com o presidente da empresa, estará conversando com um empregado, não com o dono. E a única (ou uma das únicas) preocupação de seu interlocutor será o bônus deste ano. Se no ano que vem a empresa não existir mais, ele arrumará trabalho em outro lugar. Assim, as estratégias e os interesses são distintos. Você, enquanto dono da empresa, foca no longo prazo. Eles, enquanto empregados, focam no curtíssimo prazo. Não vão se entender nunca.
Por exemplo, para cumprir metas de conquista de share de mercado (que é um ponto importante para o cálculo do bônus do ano) eles podem estar dispostos a trabalhar com níveis de preços que você, enquanto empresário, sabe que poderão comprometer a sobrevivência do seu negócio a longo prazo.
Nas empresas de capital aberto este problema do foco exclusivo no curtíssimo prazo é ainda mais acentuado, pois além dos empregados estarem preocupados com o bônus do ano, o mercado como um todo avalia as empresas em função de resultados de curto prazo, e é em função disso que as ações sobem e descem. Assim, se um executivo resolver sacrificar o curto prazo em função do longo não só ficará sem bônus, como perderá seu emprego em função da queda do valor das ações.
Os acionistas, que são os donos das empresas, acabam raciocinando também em termos de curtíssimo prazo.
A Kodak é uma grande corporação, administrada por profissionais e com capital aberto na bolsa de valores. Na Veja desta semana há uma reportagem sobre a iminência do pedido de concordata da empresa. O negócio principal da Kodak (filmes) foi exterminado pelas câmeras digitais. Incrivelmente, foi a Kodak quem inventou a máquina digital. Mas na época (1975) decidiu não levar o negócio adiante, pois ganhava rios de dinheiro com a venda de filmes, e a fotografia digital foi vista como uma ameaça a este mercado. E ninguém na empresa estava interessado em colocar em risco os resultados de curto prazo (lucro nas vendas de filmes) em função da sobrevivência da empresa no longo prazo (investimento na nova tecnologia). Provavelmente os acionistas e o tal mercado aplaudiram esta decisão na época, e os empregados receberam ótimos bônus...
segunda-feira, 9 de janeiro de 2012
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