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segunda-feira, 5 de agosto de 2013

Surtos de riqueza e seu efeito sobre os jovens

No começo dos anos 80 uma das famílias do nosso círculo de amizades era objeto de admiração e de uma certa inveja das demais famílias. Composta pelo casal e dois filhos, foi o que conheci de mais próximo de uma definição de família feliz. Dava vontade de pertencer àquela família. O marido, gerente de uma fabricante de relógios, sustentava a família num padrão de classe média. A mãe era uma dona de casa exemplar. Os filhos estudavam numa boa escola, e iam bem nos estudos. O casal estava sempre trocando carinhos.

Mas eis que na metade da década eles foram acometidos de um surto de riqueza até hoje não explicado. O surto não durou muito, mas foi intenso, a ponto de o casal começar até a frequentar o círculo de relacionamento da família Collor. O marido montou equipe de carros de corrida. O meio deles passou a ser a altíssima sociedade local, e nos afastamos. Assim como a riqueza surgiu, ela desapareceu, deixando a família destruída, na miséria, o casal separado.

Mas o principal efeito, creio, foi nos filhos. A riqueza surgiu mais ou menos na metade das suas adolescências, e mudou radicalmente seu modo de vida. De classe média, passaram a ter carrões, roupas de grife, apartamento de frente para o mar, um exército de garotas atrás deles insistindo em dizer como eram "lindos". Os estudos foram substituídos por surfe e ... drogas. E nunca mais se ajustaram. Sem o dinheiro, foram-se os carrões, o apartamento, as roupas e as garotas. Ficaram as drogas. Lá se vão mais de 20 anos do fim da fortuna, e os meninos (hoje quarentões) nunca mais se ajustaram.

Traço um paralelo disso com os jovens que entraram no mercado de trabalho neste período em que o Brasil passou por um surto de crescimento não sustentável, bancado basicamente pelo endividamento das famílias. Em função do rápido crescimento, a mão de obra desapareceu, e os jovens que ingressaram no mercado de trabalho neste período encontraram um ambiente que não é real - patrões praticamente de joelhos, dispostos a fazer literalmente qualquer coisa para não perder empregados. Para quem nunca tinha trabalhado antes, esta é a realidade do mercado de trabalho que conheceram. Conseguirão esses jovens se ajustarem quando voltarmos à triste e indesejável realidade (baixa geração de empregos em função de estagnação econômica)?

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