Nasci em 1969. Nem faz tanto tempo assim...mas vivíamos em outro planeta. Os objetivos de vida que minha família me passou eram absurdamente simples: estudar, se esforçar, trabalhar, prosperar, constituir família, ser honesto, honrado e leal, e morrer de velhice.
O mundo mudou muito de lá para cá, a vida deixou de ser algo simples para se transformar em complicação. Os objetivos de vida, antes simples e claros, se tornaram complexos e difusos, de forma que as pessoas não conseguem mais ter certeza de estar no rumo certo. Isto gera guinadas bruscas na condução das suas vidas, insegurança, frustração, depressão. Afinal, se não sei aonde quero chegar, convivo permanentemente com a sensação de estar perdido.
Até minha família, que me forjou, evoluiu com as mudanças modernas, e em algumas situações já substituíram, nos objetivos acima, honestidade por esperteza e lealdade por interesse.
Mas eu segui sempre no caminho que me foi traçado, e tudo ia relativamente bem até 1999. Neste ano resolvi voltar aos bancos escolares para cursar Direito e, para tanto, escolhi uma faculdade de elite aqui da minha cidade, com bom conceito na praça. Para minha surpresa, não aprendi quase nada de Direito ao longo de 5 anos, mas testemunhei um processo contínuo de lavagem cerebral dos alunos com doutrina comunista.
Fiquei chocado. Se isto estava acontecendo numa instituição de ensino de elite, imagine o que ocorria em outras instituições. Além disso, nossos doutrinadores eram juízes, promotores e advogados, o que era um indicativo de que judiciário, ministério público e advocacia já estavam aparelhados para servir à causa, não ao Direito. Tudo o que testemunhei de 1999 para cá só reforçou minha convicção em relação a essas três instituições.
Eu, que julgava esta história de comunismo morta com a queda do muro de Berlim, percebi então que não era bem assim. Havia muita gente trabalhando para que nós, em pleno século XXI, vivêssemos os mesmos dramas que haviam afligido europeus do leste e chineses em meados do século XX.
Até ali, meu vale era verde, e meu destino era relativamente claro. A partir desta experiência, as coisas ganharam um tom acinzentado, da incerteza, e me tornei um combatente de idéias.
Podem imaginar os leitores o meu desespero quando, em 2002, percebi grande parte dos meus conhecidos se declarando eleitores de Lula? “Por que Lula?” Eu perguntava. A resposta vinha na linha do “não dá para continuar do jeito que está, tem que mudar”. Eu tentava ir além: “mas exatamente o que precisa mudar? Você tem casa, carro, um bom trabalho, família.” Respondiam: “tem que mudar”.
Na verdade, esses membros da classe média que votaram em Lula em 2002, e deram condições para que ele chegasse ao poder, não sabiam o que precisava mudar. Apenas repetiam um discurso de insatisfação que a mídia construiu ao longo dos 8 anos do governo FHC como forma de facilitar o caminho do PT rumo ao poder. Essas pessoas “insatisfeitas” já não pensavam mais por si próprias, mas também não conseguiam perceber isto. Foram adequadamente programadas para cumprirem o papel que se esperava que cumprissem. Um plano de mestre, sem dúvida.
Dizem que em terra de cego quem tem um olho é rei. Mas a verdade é que em terra de imbecis, quem ainda consegue pensar com a própria cabeça é visto como louco. E precisa ser excluído do grupo.
Passei por este processo de exclusão social. Passaram a me ver como uma espécie de “profeta do apocalipse”. Acabaram-se os convites para encontros e churrascos de fim de semana. Até os filhos recém nascidos de amigos de longa data fico conhecendo apenas quando encontro na rua, por acaso.
Obviamente, esses lulistas de primeira viagem logo se arrependeram da sua opção eleitoral, e já em 2006 não votaram em Lula. Mas já tinham cumprido o seu papel – foi o voto da classe média do sul e do sudeste que abriu as portas do Planalto para Lula em 2002. Em 2006 Lula não precisava mais deles, já tinha o bolsa família.
O seu arrependimento por ter votado em Lula decorre mais de uma espécie de medo instintivo do que de um processo de racionalização. Ninguém fez a ligação entre meus alertas e as ações do governo. Seria querer demais...
Sim, outros amigos vieram depois que me tornei um combatente de idéias. São pessoas que possuem um núcleo de pensamento similar. Mas além do núcleo similar, há muitas divergências de avaliação, e essas novas relações ainda precisam ser melhor solidificadas.
Eu, por exemplo, acredito que uma eventual eleição de Serra apenas retardaria os planos do PT para o país, mas não conseguiria anulá-los ou revertê-los. Penso assim porque os comunistas são monopolistas do debate, não há ninguém realizando confronto ideológico de idéias com eles. Serra diz, por exemplo, que vai ampliar o bolsa família, ou seja, atua dentro da pauta delimitada pelo PT. Se eu fosse candidato (e só receberia o meu próprio voto...) eu diria, por exemplo, algo como: se você, eleitor, acredita que o projeto de futuro para o país deve ser as pessoas vivendo de esmola estatal, vote no PT. Agora, se você acredita que um projeto mais adequado de futuro seria as pessoas terem oportunidade de trabalho para viverem do seu próprio suor, vote em mim.
Muitas pessoas, no entanto, acreditam que uma simples eleição de Serra em outubro teria o poder e acabar com os planos do PT, e recolocar o país nos trilhos do progresso.
Outros, por sua vez, desejam a volta dos militares ao poder. Em relação a isto eu confesso que não sei se uma improbabilíssima intervenção militar poderia ser considerada um golpe contra a legalidade, afinal a legalidade eleitoral já foi rasgada, para beneficiar o partido. Então, ambiente de legalidade, com ou sem militares, já não existe mais.
Bom, mas de acordo com a minha crença, o atingimento dos objetivos do PT é apenas uma questão de mais ou menos tempo. E quando seus objetivos de poder forem consolidados, eles virão atrás de quem pensa diferente. Sim, como o modelo chinês nos demonstra, os comunistas podem até tolerar o capitalismo, mas eles JAMAIS toleram o pensamento divergente.
Se vão atrás de quem pensa diferente, é possível que um dia batam à porta deste blogueiro. Se este dia chegar, minha reação será forte pois, ao contrário do que ocorre com as famílias Frias, Marinho, Montenegro, Diniz e Syrotski, entre outras, não faz parte da minha natureza me ajoelhar para comunista e dizer sim senhor.
Assim ocorrendo, será melhor encerrar a passagem pela terra ali, naquele momento, do que viver sendo violentado e torturado em porões do regime.
Desta forma, o vale que já foi verde, ganhou contornos cinzentos há 11 anos atrás, e agora começa a parecer negro.
Sigo minha vida em função dos objetivos e princípios que narrei lá no início do texto. Mas certezas deixaram de existir. Do jeito que a coisa vai, até a expectativa de morrer de velhice ficou bastante incerta...
domingo, 15 de agosto de 2010
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