"O mal das democracias políticas atuais consiste não apenas no enfraquecimento cultural da sociedade de massas, mas também na inepta arquitetura das instituições políticas para conter os avanços revolucionários em ação.
Estamos a ver, em nossa terra brasilis, um tipo de socialismo em marcha, baseado no que Robert Michels chamou de “gestos bons e comoventes”. Assistimos a um espetáculo da política onde um presidente ganha popularidade não pelo que pensa, nem pelo que acredita, mas pelos gestos que pratica. Num país como o Brasil, “gestos bons” significam “contas bancárias gordas”.
Percebemos, nisso, também grande semelhança entre o socialismo alemão e o brasileiro, como aponta Robert Michels na obra “Sociologia dos Partidos Políticos”, ao afirmar que as “razões idealistas são reforçadas por razões, não menos importantes, de ordem material. O hábito de remunerar, de uma maneira suficiente pelo menos, os serviços prestados ao partido pelos seus servidores, cria um laço que numerosos companheiros evitam romper, e isso por mil razões. O princípio da remuneração pecuniária dos serviços prestados ao partido, em vigor na democracia socialista alemã, imuniza seus servidores contra tentações mais grosseiras”.
É notável, daí, dizer que o laço entre o partido e seus colaboradores se determina pela contraprestação pecuniária. Resumindo: o grupo que serve ao partido não apenas o faz por razões idealistas, senão também por receber pecúnia e, dessa forma, manter-se vinculado por “contrato”.
Mas, caberia a pergunta: quem são os servidores? Onde eles estão? Como eles agem para solidificar o partido e transformá-lo no próprio Estado?
Os diversos atores que contribuem para a tomada definitiva do Estado pelo partido são organizações poderosas, que participam na cultura de massas, fomentam o desejo das massas pelos líderes desses partidos e, ainda, recebem para isso. São agentes intermediários entre a sociedade e o Partido, construindo assim vínculos de fidalguia entre a oligarquia partidária e os lideres. Há, portanto, uma sociologia do caos: a democracia não é um regime político para a promoção das liberdades, segundo esses intentos, mas “um meio” para a tomada do poder. E tudo isso com a retribuição pecuniária!
Busca-se a construção artificial de um corpo político cuja cabeça é o partido, onde os símbolos de expressão da cultura são as doses homeopáticas de jargões partidários e os receptores desses arquétipos são os (de) formadores de opinião encostados nas universidades tupiniquins, detentores de titulações chanceladas pelo ministério da educação petista.
A lógica da dominação pelo caos, em uma síntese dialética de oposição aparente e consenso interno, funciona na fracassada “plutocracia” (Poder da riqueza e do dinheiro) nacional desde a década de 80, onde a falaciosa abertura democrática foi, de fato, só midiática e ideal. Na realidade, uma ditadura foi substituída por outra: as organizações partidárias oligárquicas, no mesmo sentido descrito cruelmente por Michels na Alemanha, só mudaram os nomes de seus líderes. Os militares foram substituídos pelos civis; porém, esses civis não são exatamente “cívicos”, republicanos, democráticos, senão líderes oligárquicos, valendo-se dos aspectos mais baixos das heranças totalitárias do século passado, como, por exemplo, a identidade entre estado e partido, a implementação da cultura totalitária pelo princípio da legalidade e da jurisdição, a substituição dos símbolos naturais da sociedade por símbolos artificiais, a atomização da sociedade de massas, dentre outras coisas do gênero, para casar tais elementos com formas tecnológicas contemporâneas de dominação pelo poder. Uma verdadeira Tecnodemocracia, nas palavras de Duverger. E tudo isso pela retribuição pecuniária daqueles que servem fielmente aos objetivos escabrosos do Partido único. Um empirismo político atroz: um sistema monolítico partidário mediado pelos mass media!
O leitor já deve estar se perguntando: mas como podemos ver isso no Brasil? Eu explico. Quando a Folha de São Paulo noticia certas situações envergando para uma posição a favor daquilo que o governo petista projeta como “gesto bom e comovente”, nada faz senão aplicar, no jornalismo de massas, as pretensões intestinas do Partido que, de posse disso, cria na sociedade “informada” uma educação tal qual projetara a intelligentsia de seus quadros. Pois bem. A partir disso, o próprio partido, retribuindo aos seus agentes midiáticos com verbas pecuniárias estatais, sem contudo informar a população a esse respeito, encontra terreno fértil para passar projetos de lei manifestamente favoráveis às pretensões defendidas pelo jornal. E o círculo vicioso se completa quando uma casa legislativa formada por idiotas úteis – termo usado pelos oligarcas – aprova o projeto, mesmo em contradição clara em relação aos preceitos expostos na Constituição para, após isso, o judiciário “alternativo” empregar as pretensões totalitárias a que eles mesmos deram início dentro do Partido, na qualidade então de agentes políticos camuflados, travestidos de juízes togados, mas agentes revolucionários atuantes em meio a um mar de estupidez e ignorância midiática!
Assim, o totalitarismo a que estamos assistindo está sendo maquinado da mesma forma que fora no século passado, com o acréscimo de que, hoje, há tecnologia de ponta hábil a tornar mais efetivo o controle sobre a sociedade.
Resumo do artigo “Comoção e totalitarismo” de Marcus Boeira."
sexta-feira, 27 de agosto de 2010
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