"Se as coisas eram assim na metade do século passado, pioraram extraordinariamente com o sumiço das demais referências que orientavam os combatentes da Guerra Fria na frente tropical. De lá para cá, desapareceram a União Soviética, o Muro de Berlim, a Cortina de Ferro, o Pacto de Varsóvia, a China maoísta, o Partidão, até a Albânia. Os guerrilheiros de festim lutam contra a calvície, a moral e os bons costumes. Os revolucionários de passeata atacam cofres públicos e facilitam negociatas de capitalistas selvagens. Fidel Castro virou garoto-propaganda da Adidas e agoniza numa Cuba em decomposição. A última bússola é o imperialismo ianque.
A hostilidade aos Estados Unidos é o derradeiro traço comum da tribo que junta stalinistas farofeiros, vigaristas cucarachas, bufões bolivarianos, terroristas islâmicos, populistas de bolerão, genocidas patológicos e ditadores africanos de diferentes túnicas e contas bancárias na Suiça. Neste começo de milênio, caso acordassem num mundo sem os Estados Unidos, todos se sentiriam mais órfãos que um Pedro II sem pai nem mãe, sem trono e sem José Bonifácio.
“O tal ódio aos americanos não chega a ser um sentimento, não chega a ser uma paixão. É uma defesa”, diagnosticou Nelson Rodrigues. “O imperialismo é culpado de tudo e nós, de nada”. A acreditar na lengalenga dos que despertam no meio da noite berrando insultos ao Tio Sam, é por culpa da nação que garantiu em duas guerras o triunfo da liberdade sobre o totalitarismo que o Brasil ainda não acabou de vez com a fome, o analfabetismo, a seca do Nordeste, o impaludismo, os vexames do Enem, os naufrágios do PAC, a mortalidade infantil, o déficit público, a impunidade dos corruptos e dos assassinos, o desmatamento da Amazônia e a pouca vergonha epidêmica."
segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011
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