Por Guilherme Fiúza - Revista Época - 22/03/2011
O governo terminará três meses de vida sem um único projeto relevante – e sem um oponente para denunciar isso
Aproximando-se de completar seus três primeiros meses de vida, o governo Dilma é um sucesso. Público e crítica celebram a “presidenta” por tudo o que ela não fez: não apoiou Khadafi, o amigo de Lula; não foi tirar foto com Fidel Castro; não convidou Ahmadinejad, o tarado atômico do Irã, para rever os companheiros em Brasília; (ainda) não tentou jogar o povo contra a imprensa burguesa; não fez metáforas futebolísticas.
Com uma agenda assim tão espetacular de atitudes não tomadas, Dilma Rousseff caminha para a unanimidade. A não ser que o piloto automático sofra um infarto de tanto trabalhar.
Por enquanto, a arquibancada está satisfeita. Regando o mito da gerente austera, Dilma anunciou um corte orçamentário de R$ 50 bilhões. Pura fantasia, mas impressiona. Como se sabe, o orçamento da União é uma alegoria carnavalesca que sobrevive à Quarta-Feira de Cinzas, mas não muito. Ele reúne as melhores (e piores) intenções de gastos do Poder Executivo – infladas pela gana das emendas parlamentares. Cortar intenções é mais ou menos como economizar sonhos. É sonhar com uma mansão em Beverly Hills e, ao acordar, tomar a drástica decisão de não comprá-la. Uma bela economia.
Na vida real, o que se vê é um pouco diferente. Os gastos do governo federal com passagens e diárias de seus funcionários, por exemplo, subiram mais de 30% em relação ao mesmo período de 2010 – o ano da gastança. É compreensível. Quando era ministra, questionada sobre a necessidade de redução das verbas de custeio, Dilma afirmou que “gasto corrente é vida”. E a vida não pode acabar logo agora que ela é presidente.
A diferença é que agora Dilma não fala – só gasta. E a opinião pública é assim mesmo: o que os ouvidos não ouvem o bolso não sente. Claro que o derrame com a máquina, a fabricação de superávit, a injeção de dinheiro do Tesouro nas estatais via BNDES e outras manias petistas têm um preço. Estão aí a pressão inflacionária e a alta dos juros cobrando a conta. Mas não tem perigo, porque o eleitor nunca repara em quem pendurou a fatura. Ele está ocupado batendo palmas para a economia de R$ 50 bilhões.
A oposição deu sua valiosa contribuição para os três meses de sucesso do governo Dilma. Os tucanos concentraram boa parte da energia na defesa do salário mínimo de R$ 600, sentindo-se muito espertos com essa tática. É o complexo petista do PSDB. O DEM, partido que se esfarela em praça pública, aliou-se ao fisiologismo sindical para apostar também na pegadinha populista. Na falta de uma boa polêmica sobre o aborto, o jeito foi fazer proselitismo com o salário mínimo. Não chega a ser um projeto de nação.
Com o anúncio do crescimento de 7,5% do PIB de 2010, o presidente do PSDB, Sérgio Guerra, soltou uma nota. Dizia basicamente que Dilma prometeu mais do que podia e vai ter de cortar mais do que anuncia. Isto é: o tucano comprou briga com o passado e com o futuro, deixando o presente intacto. Nem um peteleco na mítica gestão da “presidenta”. Poderia ter dito, ao menos, que crescer 7,5% não é nada demais depois de crescer zero. Mas preferiu declarar que José Serra tinha razão. A oposição não tem nada melhor para fazer do que press release de candidato derrotado.
Aécio Neves também se pronunciou. Principal nome da oposição, o senador mineiro disse que vai soltar o verbo quando o governo completar 100 dias. Levantará bandeiras de impacto, como a defesa de mais verbas para o Fundo de Participação dos Municípios. Com uma proposta dessas, o governo deve estar tremendo na base.
Pela primeira vez na história da República um governo completará três meses de vida sem um único projeto relevante na agenda – e sem um único oponente para denunciar isso. Estão todos felizes, tomando laranjada de reforma política (para boi dormir) e curando a ressaca do falatório de Lula. Viva o piloto automático
quarta-feira, 23 de março de 2011
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