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sexta-feira, 2 de janeiro de 2009

A comunicação

Atualmente todo mundo fala, fala muito, fala o tempo inteiro.

No entanto, poucos dizem alguma coisa.

Vivemos a era das comunicações, com bilhões de celulares, e gente falando sem parar, fazendo a alegria das operadoras.

Os canais de televisão falam 24 horas por dia. E não dizem nada.

As pessoas parecem não perceber, mas a fala é uma dádiva. A fala foi um elemento essencial para nos tirar das cavernas e nos inserir na civilização. Também foi fundamental para a evolução da civilização. Os líderes falavam bem, fizeram discursos históricos, conduziram o processo civilizatório.

A fala foi a primeira ferramenta efetiva para transmissão e acumulação de conhecimento (antes dela havia apenas desenhos rupestres). Através da fala, trocava-se informação.

Os contratos, antes de serem feitos de forma escrita, eram falados, e a fala era a garantia do que havia sido tratado.

Mas o que nós, os contemporâneos, os modernos, os antenados e espertos estamos fazendo com a fala?

Na minha opinião, estamos transformando a fala num simples ato de produzir barulho com a boca, sem função de útil. Com todo o impacto que isto terá para o processo civilizatório.

E a vergonha na cara? Pessoas que deveriam ter responsabilidade, como nosso presidente Lula, falam uma coisa hoje e, amanhã, falam exatamente o contrário, como se a fala de hoje não tivésse existido. E assim, vão falando coisas opostas ao sabor dos acontecimentos. Vão assassinando a função comunicativa da fala. Sobra só o barulho, produzido em mal portugues.

E o idioma?

Bom, o idioma está sendo quebrado em dialetos. Cada grupo social está aos poucos criando o seu dialeto, que lembram a língua portuguesa. Ouçam os diálogos grampeados dos presos, ouçam o "papo" dos jovens, ouçam uma reunião de advogados, ouçam um discurso do presidente. Em todos eles estarão sendo praticados dialetos, que não são acessíveis aos "de fora". E com isto a linguagem deixa de ter uma função de inclusão, e passa a ser um elemento de exclusão.

E aqueles que deveriam dar o exemplo, como os jornalistas, que vivem da comunicação?

Um caso exemplifica bem o que estou falando - a jornalista Miriam Leitão, principal jornalista de economia, do principal grupo de comunicação do país.

Em seus comentários no Bom Dia Brasil ela lê o teleprompter, e nao percebemos maiores poblemas, exceto quando o referido equipamento falha. Mas e seu comentário na rádio CBN? Escutem e tentem me responder que língua ela fala. Pontuação, não existe. É um atropelo de palavras, entremeado de muitos "ahns". Vivêssemos numa sociedade que désse importância ao que é falado, e jornalista assim não teria espaço nos meios de comunicação.

Nossos contemporâneos falam mais do que pensam.

Não sou o único a perceber este problema, tenho certeza que muitos outros também o percebem, e até escrevem sobre isto.

Então, onde estou solitário?

Estou solitário porquê vejo nisso uma ameaça à evolução no processo civilizatório. Para mim, se a fala e a comunicação perdem suas funções origiárias relevantes, damos marcha ré no referido processo e iniciamos o caminho de volta em direção à barbárie. Se a fala se transforma em mero ato de produção de barulho, em nada se diferencia do latido dos cães, ou do miado dos gatos. Aliás, se diferencia, pois o latido e o miado têm suas funções na natureza.

É com esta posição que ninguém concorda. "É um radical", dizem.

Bom, foi para dizer as coisas que penso que criei este blog, não para agradar ou obter adesões.

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