- Uma longa fila de gente esperando para ser atendida, como cordeirinhos aguardando o abate. Gente com cara de povo sofrido, muitos estão na fila desde a noite anterior.
- Do outro lado do balcão, funcionários públicos bem remunerados, mas mal vestidos, mal penteados, mal amados, conversam entre si, tomam café, jogam paciência e navegam na internet.
- De vez em quando um dos sofridos é chamado por um dos bem remunerados. O sofrido é recebido com cara de tédio. O bem remunerado deixa claro com a expressão facial que muitas coisas importantes dependem dele, mas que ele está desperdiçando o seu tempo precioso com o sofrido. Ou seja, o sofrido, que paga a conta, é o estorvo do bem remunerado.
- O bem remunerado revisa com cara de nojo a papelada trazida pelo sofrido e, ao final, o resultado é sempre o mesmo – faltou um carimbo, faltou uma autenticação, faltou uma certidão. A papelada é devolvida ao sofrido, com instruções para que obtenha o que está faltando, e retorne numa outra madrugada para a fila.
- O sofrido tenta argumentar, contar a sua situação, o seu sofrimento, o seu desespero. Não adianta, diz o bem remunerado – “lei é lei”.
- O sangue do sofrido começa a ferver nas veias, mas nesse instante ele observa um cartaz afixado na parede das repartições públicas, que lista as penalidades para agressões físicas ou verbais ao “servidor público”. Com medo de ir preso, o sofrido engole em seco, e segue adiante.
- O bem remunerado levanta e vai pegar outro café, porquê o dele já esfriou.
E o Brasil anda para trás.
terça-feira, 7 de abril de 2009
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