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segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Do Olavo de Carvalho

"Georges Gurdjieff, que era um falso mestre espiritual mas um autêntico gênio do humorismo sádico, dizia ser a inteligência humana uma substância material, que existia no planeta Terra numa quantidade definida: quando um sujeito adquiria mais inteligência, ficava faltando para os outros. Essa teoria, evidentemente, só vale como piada, mas, nos meus momentos de depressão, chego a acreditar um pouco nela: afinal, como a experiência de décadas tem me confirmado, à medida que eu ia vencendo minha burrice natural e adquirindo alguma compreensão dos problemas da metafísica, da teoria do conhecimento e da lógica das ciências, ia concomitantemente observando meus contemporâneos perderem não apenas a capacidade para as distinções mais elementares, mas também a percepção das conseqüencias diretas e incontornáveis das afirmações em que acreditavam. Pior ainda: a diferença mesma entre inteligência e burrice ia se tornando para eles cada vez mais insensível, ao ponto de celebrarem como teorias respeitáveis certas idéias que, na geração anterior, um menino de escola perceberia de imediato serem totalmente autocontraditórias e inviáveis. A única explicação que encontro para esse fato é a hipótese gurdieffiana: cada vez que eu compreendia alguma coisa, a quantidade correspondente de potência compreensiva era suprimida de outros cérebros, fazendo com que eu progredisse na vida do intelecto às custas da imbecilização geral. Devo ser, em suma, um ladrão de conexões sinápticas."

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