"O dado mais importante da história mundial desde há mais de dois séculos é também, por força de sua onipresença mesma, o mais frequentemente negligenciado - quando não totalmente ignorado - pelo comentário político usual. Esse dado é o seguinte: o movimento revolucionário é a única tradição de pensamento político-estratégico que tem uma existência contínua e um senso de unidade orgânica desde pelo menos o século XVIII. Todas as correntes adversárias são efusões parciais, locais, temporárias e inconexas.
A marcha avassaladora do pensamento revolucionário é como uma enchente que não se defrontasse pelo caminho senão com velhos pedaços de muro erguidos a esmo, um aqui, outro ali, em toda a extensão de uma planície aberta.
O que caracteriza a sua unidade é que toda a multidão das suas correntes e facções compõe um patrimônio comum do qual os intelectuais revolucionários estão conscientes e que alimenta, de geração em geração, os debates dos partidos e organizações revolucionárias.
Nada de semelhante observou-se jamais na "direita". Entre as suas facções e divisões reina a mais incompreensiva hostilidade, quando não aquele desprezo olímpico que torna a ignorância mútua uma espécie de dever.
Até hoje, todas as reações que se oferecem ao movimento revolucionário são apenas pontuais, reagindo às suas manifestações particulares e esgotando-se em combates periféricos que deixam incólume o coração do monstro. É como se cada conservador, reacionário, liberal, cristão tradicionalista ou judeu ortodoxo só se desse conta da malignidade do processo revolucionário quando este fere os valores que são caros à sua pessoa ou comunidade, sem reparar na infinidade de outros pontos de ataque em torno de bolsões de resistência dispersos, onde franco-atiradores oferecem uma obstinada e vã resistência parcial a um cerco geral e multilateral."
quinta-feira, 14 de julho de 2011
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