Fracasso no controle de armas
Ariel Cohen
Em Washington (EUA)O governo Obama não conseguiu concluir a negociação do acordo que substituiria o Tratado de Redução de Armas Estratégicas (Start), que expirou no dia 5 de dezembro. As duas superpotências agora estão em águas incertas.
Moscou e Washington declararam que o Start ainda é válido de forma voluntária. Isso é falso. Em primeiro lugar porque, sem o consentimento do Senado americano, tratados expirados são nulos e sem validade. Segundo, porque os russos já expulsaram os inspetores americanos, jogando fora uma condição-chave do agora falecido tratado. Terceiro, porque na terça-feira, 29 de dezembro, o primeiro ministro Vladimir Putin aumentou as exigências, relacionando os mísseis de defesa norte-americanos à assinatura do tratado. Em discurso feito em Vladivostok no final daquela semana, Putin alertou contra a "agressividade" norte-americana e o rompimento do equilíbrio nuclear caso o governo Obama coloque seus mísseis de defesa de prontidão.
Mísseis nucleares intercontinentais Topol-M são exibidos na Praça Vermelha durante o desfile que comemorou fim da 2ªGuerra Mundial, na Rússia
Leia mais notícias do jornais internacionaisLeia outras notícias internacionaisA competição entre Putin e o presidente Dmitri Medvedev para a eleição presidencial de 2012 está crescendo e Putin pode estar negando uma conquista de prestígio a seu ex-protegido.
As conversas oficiais recomeçarão em Genebra, possivelmente ainda na próxima semana. E o lado norte-americano parece circunspecto. O Senado norte-americano está preocupado com o futuro do tratado que está por vir. Os senadores temem que o governo Obama possa estar fazendo aos russos concessões que são uma ameaça à segurança nacional do país. Em 16 de dezembro, 41 senadores assinaram uma carta ao presidente Obama, dizendo que serão contra o novo tratado caso os Estados Unidos abram mão da modernização nuclear. Assim, a maioria dos 67 votos necessários para a ratificação está longe de ser garantida.
Os que apoiam os mísseis de defesa, a modernização nuclear e a imediata investida global dos mísseis de balística intercontinental com ogivas convencionais irão contra o tratado se este minar suas prioridades.
O presidente norte-americano Barack Obama ouve o presidente russo Dmitry Medvedev durante encontro no Kremlin, em Moscou (Rússia)
O Kremlin sente que está em vantagem na barganha nuclear, já que o tratado por vir é considerado mais importante para os Estados Unidos do que para a Rússia. A Casa Branca já cedeu com a retirada de mísseis de defesa estacionados na Polônia e na República Tcheca e concordou em afastar os inspetores norte-americanos de uma fábrica de mísseis em Votkinsk, Rússia. A remoção impossibilitará o monitoramento da produção do novo ICBM móvel multi-ogiva RS-24 russo. Esse míssil será o principal eixo das forças estratégicas russas até 2016. Assim, o lado mais forte começa a parecer um perdedor.
As preocupações com o tratado que substituirá o Start são uma parte importante do esforço de Obama para "reiniciar" as relações com a Rússia. A assinatura deste tratado, assim como a ratificação do Tratado de Banimento Completo dos Testes Nucleares pelo Congresso, são vistos como peças-chave da "volta ao zero" - visando um mundo sem armas nucleares.
No entanto, os russos zombam em silêncio dos objetivos de Obama. Enquanto o governo russo defende publicamente os esforços norte-americanos para o desarmamento, as elites militar e de segurança russas zombam dele. "A Rússia desenvolverá armas ofensivas - porque sem elas não há outra maneira de defender o país", afirmou Medvedev recentemente em uma entrevista na televisão.
Além disso, a política e a posição nuclear russas revelam um compromisso claro e inabalável para com as armas nucleares. O governo norte-americano e os negociadores do controle de armas deveriam examinar a posição nuclear e a política russas como elas são, e não como eles gostariam que fossem.
A Rússia está aumentando o papel das armas nucleares em sua estratégia e política de segurança nacional. A política nuclear russa vê os Estados Unidos como seu "principal adversário". Com deficiências em sua força convencional e dificuldades em obter e desenvolver armas de alta tecnologia, a Rússia vai se apoiar cada vez mais nas armas nucleares, incluindo seu uso em conflitos locais, como na Geórgia no ano passado. Foi isso que o secretário do Conselho de Segurança Nacional Russo, general Nicolay Patrushev, anunciou recentemente.
Além disso, a Rússia tem 3.800 reatores nucleares que não estão incluídos no tratado a ser assinado. E em recentes manobras nucleares na Bielorrússia, o exército russo simulou uma invasão da Polônia - com 900 tanques e usando três armas nucleares contra o "inimigo".
Putin tem declarado repetidas vezes que, apesar da crise econômica, o governo Russo continuará a financiar grandemente o desenvolvimento de equipamentos militares, incluindo a modernização das armas nucleares. A indústria militar russa está ocupada desenvolvendo armas nucleares de alta precisão e de curto alcance com penetração profunda. Mas os russos também exigem que os Estados Unidos suspendam a modernização nuclear, coisa que a comissão bipartidária Perry-Schlesinger recomendou ao Congresso norte-americano e que é necessária para manter um desencorajamento efetivo.
Para concluir, a inteligência norte-americana avisou o Congresso que a Rússia está violando o Start, assim como outros acordos de controle de armas e de não-proliferação. A abrangente agenda do governo Obama para "voltar ao zero" parece ter comprometido as negociações dos tratados. Isso fez com que o senador Jon Kyl, republicano do Arizona, acusasse o governo de negligência no controle de armas.
Para resumir, o novo tratado não pode comprometer a segurança nacional dos Estados Unidos e de seus aliados. Ele não deveria limitar os mísseis de defesa americanos ou a modernização nuclear. Os Estados Unidos deveriam se opor à postura nuclear ofensiva russa e à contínua redução dos limites nucleares. Os Estados Unidos devem buscar uma estratégia de "proteção e defesa", que inclua uma posição nuclear defensiva, mísseis de defesa e a modernização nuclear.
(Ariel Cohen é pesquisador sênior do Instituto Davis para Estudos Internacionais da Heritage Foundation.)
Tradução: Eloise De Vylder
segunda-feira, 11 de janeiro de 2010
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