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segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Texto de Martim Vasques da Cunha

Trecho:

"Estes dois partidos, apesar de aparentarem uma "oposição", na verdade falam a mesma língua e trocam farpas no mesmo ambiente cultural. São duplos miméticos, para usarmos um termo girardiano, em que um imita o outro conforme a rivalidade se intensifica, tornando-os indistingüiveis quando a propaganda os faz parecer diferentes. Formam a "social-democracia obscurantista" porque criaram o totalitarismo cultural e espiritual que vivemos nos nossos dias. Você pode até pensar que não está em um regime totalitário porque ainda (repito: ainda) não foi preso por uma Securitate ou uma KGB tupiniquim, mas pergunto-lhe: Já tentou falar de algo que escape do relativismo moral que abunda nas universidades e redações de jornais? Experimente falar de qualquer tema metafísico ou religioso; é batata que você será catalogado como "carola". Defenda a hieraquia da realidade, em que a ordem das coisas se sobrepõe ao fanaticismo da igualdade - e veja como as pessoas não o convidarão mais para o cocktail bacana onde você poderia descolar um empreguinho trendy. Isso sim é totalitarismo - e o pior de todos pois é o totalitarismo consentido, fortalecido na pusilanimidade humana, na apatia da ação débil, que confunde caridade com coniviência criminosa. Se não matam o seu corpo, matam a sua alma.

O PSDB e o PT - e José Sarney, Collor de Mello, Democratas, you name it - simplesmente acabaram com qualquer espécie de oposição no debate político do país. Eles são adeptos totais da política da fé; são jacobinos elevados a terceira potência, tomando decisões dentro de seus gabinetes, completamente descolados do real, possuídos por uma ideologia que, somada à libido dominandi, resulta no país onde vivemos: uma vitrine feita apenas para inglês ver que, seduzida pelas estatísticas e pelos números, acha que está em pujança econômica quando isto é, na verdade, o primeiro passo para a queda definitiva.

Para piorar, não temos sequer uma resistência digna de nome. Exceto o trabalho pioneiro de Olavo de Carvalho, que avisou todo mundo, mas ninguém ouviu, não se pode contar com uma vivalma; nem com os liberais, que se preocupam somente com a economia e com uma tal de "liberdade" que nem eles próprios desconfiam o que seja; nem com os conservadores, que não existem no Brasil e, se isso ocorrer, tenham certeza de que será um milagre; nem com uma suposta resistência cristã, que, dividida entre a Igreja Católica e uma parcela dos evangélicos, não sabem se tomam o lado da caridade dos tolos ou assumem de vez o vírus da Teologia da Libertação. E se alguém espera alguma coisa do setor empresarial, que, sem dúvida, é o que sai mais prejudicado com toda essa situação (afinal, um livre mercado só pode existir se a liberdade existir dentro de uma determinada ordem e hierarquia), podem esquecer: como já sabemos, o PT fez questão de comprar a consciência de cada um, tornando-os socialistas de carteirinha.

No aspecto cultural, que é o que me interessa, as conseqüências são seríssimas: a sociedade passa a viver em uma espécie de realidade alternativa, onde as coisas se apresentam como uma espécie de alucinação, impossibilitando os pequenos detalhes que fazem a vida prática funcionar. Mas como todos querem uma existência sossegada, então aceitam a situação e se abaixam até um dia o focinho alcançar o chão. É um passo para a estratégia da avestruz: enfiar a cabeça na terra e mentir para si mesmo parece ser a resposta certa, pelo menos segundo esses senhores.

Quando uma sociedade se descola propositadamente da realidade, toda a sua cultura se torna um instrumento de poder. E quando as pessoas pensam somente dentro de uma lógica de poder, é apenas um passo para uma guerra civil. Contudo, essa guerra civil não acontecerá de modo apocalíptico; é a destruição das instituições por dentro, como o cupim que come a madeira, para depois atingir a população numa letargia sem precendentes, da qual ninguém sabe mais de onde vem o mal que a aflige. A guerra civil se dará entre as famílias, entre os amigos, entre as pessoas mais queridas. E o fato de que, para destruir a sua vida, você não precisa mais de ter um inimigo e sim somente um bom amigo - eis a grande novidade do totalitarismo do século XXI."

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