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sexta-feira, 16 de setembro de 2011

Do Reinaldo Azevedo

"O que pensavam, de fato, aqueles “progressistas” todos sobre o operariado, gente com a qual eu convivia, que havia me dado boa parte da minha memória afetiva? Como aqueles “amigos do povo” veriam, por exemplo, o meu pai operário, suas unhas tingidas de graxa e sua ignorância revolucionária? “Povo”? As esquerdas jamais se interessaram de verdade pelos homens e mulheres que há. Eles são meros coadjuvantes de uma narrativa protagonizada pela elite revolucionária em nome do “homem a haver”. E, para que se construa esse novo tempo, tudo é, então, permitido. Aqueles esquerdistas com os quais convivi dos 14 aos 21 anos eram os herdeiros, intelectuais ao menos, do Lênin que mandara fechar a Assembléia em 1918 porque teria se transformado em instrumento dos reacionários.

O chefão homicida do golpe bolchevique abusou como quis da teoria marxista, mas não neste particular: a concepção de que uma elite intelectual deve conduzir uma classe que nem mesmo tem consciência de seu papel revolucionário é um dos pilares demoníacos do marxismo. O “demônio” entra aqui como uma metáfora. Recorro à imagem porque aí está a justificação do mal — de qualquer mal. Este homem que se define por tudo o que não sabe e por tudo o que não é se torna mero instrumento do ente de razão que vai conduzir a luta: o partido — que será a correia que fará girar o motor da história."

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