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sábado, 29 de agosto de 2009

Em sintonia com Augusto Nunes

Passei os últimos dias em São Paulo, meio longe do computador. Na sexta-feira nem liguei o computador, de forma que não consegui atualizar o blog.

De volta para casa hoje, escrevi um texto entitulado "ignorância de massa". Após publicar o texto, fui ao site da Veja.com para ler Augusto Nunes, e eis que encontro por lá esta pérola:

"SEÇÃO » Direto ao Ponto
A celebração da ignorância é um insulto aos pobres que estudam
26 de agosto de 2009
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“Eu cheguei à Presidência mesmo sem ter um curso superior”, repetiu Lula a frase que nasceu como pedido de desculpas, tornou-se desafio, foi promovida a motivo de orgulho e acabou virando refrão do hino à ignorância. ”Talvez até quando eu deixar a Presidência possa até cursar uma universidade”, disse nesta terça-feira o único chefe de governo do mundo que não sabe escrever e nunca leu um livro.

Desse perigo estão livres os professores universitários. Lula evita livros e cadernos como o Superman evita a kriptonita. Longe do trabalho duro há 30 anos, não estudou porque não quis. Tempo teve de sobra. Vai sobrar mais tempo ainda quando sair do Planalto, mas continua sobrando preguiça. E ele entende que foi formalmente dispensado de aprender qualquer coisa pelos companheiros que sabem juntar sujeito e predicado.

A lastimável formação escolar foi tratada como pecado venial até que o crítico literário Antonio Cândido ensinou que, dependendo do portador, ignorância é virtude. “Essa história de despreparo é bobagem”, decretou há dois anos, entre um ensaio e a leitura de um clássico, o professor que não perdoava sequer cacófatos. ”Lula tem uma poderosa inteligência e uma capacidade extraordinária de absorver qualquer fonte de ensinamento que existe em volta dele ─ viajando pelo país, conversando com o povo, convivendo com os intelectuais”.

Amigo do fenômeno há 20 anos, Antônio Cândido descobriu um doutor de nascença. ”Nunca vi Lula ser um papagaio de ninguém”, garantiu. “Nunca vi Lula repetir o que ouviu. Ele tem uma grande capacidade de reelaborar o que aprende. E isso é muito importante num líder”. O líder passou a reelaborar o que aprende com tal desembaraço que anda dando lições a quem sabe.
Em junho, numa entrevista à RBS, explicou que a ministra Ellen Gracie não conseguiu o emprego no Exterior porque não estudou como deveria. “Mas ela é moça, ainda tem tempo”, consolou-a. Em julho, enquadrou os críticos do programa que provocou o sumiço da miséria, o extermínio da fome e a promoção de todos os pobres a brasileiros da classe média.

“Alguns dizem assim: o Bolsa Família é uma esmola, é assistencialismo, é demagogia e vai por aí afora”, decolou o exterminador de plurais. “Tem gente tão imbecil, tão ignorante, que ainda fala ‘o Bolsa Família é pra deixá as pessoas preguiçosa porque quem recebe não quer mais trabalhá”. Quem discorda do presidente que ignora a existência da fronteira entre o Brasil e a Bolívia, reincidiu, ”é uma pessoa ignorante ou uma pessoa de má-fé ou uma pessoa que não conhece o povo brasileiro”.

Povo é com ele, gabou-se outra vez nesta terça-feira. No meio da aula, recomendou o estudo de português. ”É muito importante para as crianças não falarem menas laranjas, como eu”, exemplificou. Mas não tão importante assim: ”Às vezes, o português correto as pessoas nem entendem. Entendem o menas que eu falo”.

Mesmo os que não se expressam corretamente entendem quem fala menos. Não falta inteligência ao povo. Falta escola. Falta educação. Falta gente letrada com disposição e coragem para corrigir erros cometidos por adultos que nasceram pobres. Lula deixou de dizer menas quando alguém lhe ensinou que a palavra não existe. O exemplo que invocou foi apenas outra esperteza. Poucas manifestações de elitismo são tão perversas quanto conceder a quem nasce pobre o direito de nada aprender até a morte.

Milhões de meninos muito mais pobres do que Lula foi enfrentam carências desoladoras para assimilar conhecimentos. A celebração da ignorância é sobretudo um insulto aos pobres que estudam. É também uma agressão aos homens que sabem. Num Brasil pelo avesso, os que se aprenderam português logo terão de pedir licença aos analfabetos para expressar-se corretamente, e os que estudaram em Harvard esconderão o diploma no sótão.
A boa formação intelectual não transforma um governante em bom presidente. Mas quem se orgulha da formação indigente e despreza o conhecimento só se candidata a estadista por não saber o que é isso. Lula será apenas outra má lembrança destes tempos estranhos."

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