"Em 1958, quando Mao lançou o Grande Salto Adiante, seu segundo em comando, Liu Shao-chi, o acompanhou, embora discordasse de sua posição. E quando o ministro da defesa Pend De-huai minifestou-se contra as políticas de Mao em Lushan, em 1959, no momento em que uma epidemia de fome estava em pleno andamento, Liu, que era então presidente do estado, além de segundo homem mais forte do partido, não o apoiou."
"Mas Liu estava profundamente perturbado pela epidemia de fome, que, ele sabia, até o começo de 1961 já havia consumido cerca de 30 milhões de vidas. E ficou particularmente afetado quando visitou sua região natal em Hunan, entre abril e maio daquele ano, e viu com os próprios olhos o sofrimento horrível que ajudara a criar. Decidiu então descobrir uma maneira de deter Mao."
"Mao tentou desviar a insatisfação com seu método usual de apontar bodes expiatórios. As pessoas que escolheu foram, em primeiro lugar, quadros das aldeias, que ele acusou de "bater nas pessoas e espancá-las até a morte", e de "fazer com que as colheitas diminuíssem e as pessoas não tivéssem o suficiente para comer". Depois culpou os russos, e seu terceiro bode expiatório foram "calamidades naturais extraordináriamente grandes". Na verdade, os registros metereológicos mostram que, além de não ter havido calamidades naturais durante os anos de fome, o tempo foi melhor do que a média. Mas, mesmo que os quadros não tivéssem uma visão geral do país e metade deles acreditasse em Mao, os funcionários famintos sentiam que algo devia estar terrivelmente errado no modo como o partido governava a China se a população inteira, inclusive eles mesmos, estava em tal estado de miséria."
"Mao tentou também conquistar a simpatia dos quadros ao anunciar aos membros do partido que ele "compartilharia a boa e a má sorte com a nação", e deixaria de comer carne. Na verdade, tudo o que ele fez, durante algum tempo, foi comer peixe, que de qualquer forma ele adorava. E seu regime sem carne não durou muito. Com efeito, foi exatamente no meio da epidemia de fome que ele desenvolveu um pendor pela cozinha européia, rica em carne. Em 26 de abril de 1961, um conjunto abrangente de menus europeus foi-lhe apresentado, dividido em sete partes: frutos do mar, frango, pato, porco, carneiro, carne bovina e sopas, cada uma delas com vários pratos."
"Mao fazia grandes esforços para manter sua vida cotidiana completamente secreta. Sua filha Li Na morava na universidade; assim, durante a semana comia as rações normais e morria de foma. Quando foi passar um fim de semana em casa, surrupiou alguns dos luxos culinários usuais do pai. Mao disse-lhe para nunca mais fazer isso. Nada podia destruir a ilusão de que ele estva apertando o cinto junto com o resto do país. Em consequência, Li Na contraiu edema em 1960 e parou de menstruar. No ano seguinte, abandonou totalmente a universidade e ficou em casa."
"Para os membros de seu staff, que podiam ver o que Mao comia e que também estavam semifamintos como suas famílias, Mao alegava que sua comida era uma recompensa "do povo" para ele e que os outros "não tinham direito" a ela. Seu zelador levou alguns restos para casa e foi exilado no Grande Deserto do Norte; nunca mais se soube dele."
Trechos das páginas 379 a 384 do livro "Mao, A História Desconhecida" de Jan Halliday e Jung Chang.
domingo, 23 de agosto de 2009
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