Vivemos tempos tristes. O próprio crescimento desordenado da população nos tira cada vez mais a individualidade e nos leva para uma cultura de massa, para uma cultura de formigueiro.
Some-se a isso a forte presença da mídia, que é o mundo do faz de conta, na vida contemporânea, e temos o cenário pronto: cultura de massa, perda de individualidade, superficialidade, situações de faz de conta, ausência de substância e hipocrisia.
A forma mais fácil de identificar este fenômeno é nas empresas que trabalham com quantidade muito grande de clientes (com o formigueiro). Todas são as melhores do mundo nas propagandas, que atingem milhões de consumidores, mas na prática massacram individualmente seus clientes. O importante é a massa, os indivíduos são irrelevantes.
Pela propaganda meu banco é o melhor do mundo, e cliente para eles é tudo. Na prática, mesmo sendo cliente há mais de 20 anos, não consigo sequer que minha gerente responda um e mail.
Pela propaganda, minha operadora de telefonia é a melhor do mundo. Na prática, todos que já ligaram para um call center de telefônica sabem o que enfrento toda a vez que preciso falar com eles. Isso sem falar nos serviços que não solicito, mas que vêm na fatura...
Pela propaganda, meu cartão de crédito é o melhor do mundo e só não compra o que não tem preço. Na prática, quando aparecem na fatura despesas que não fiz é um calvário para conseguir falar com alguém que resolva.
Pela propaganda, as companhias aéreas Brasileiras são as melhores do mundo e estão preocupadas com a segurança e conforto dos passageiros, com a pontualidade, com a "viagem feliz", etc. Na prática, como viajo toda a semana, percebo que as companhias não estão nem aí para os clientes, seus funcionários são grosseiros, nos largam em salas de embarque sem dar nenhuma satisfação quanto aos horários dos vôos, e as fileiras de assentos são tão apertadas que minhas pernas não cabem. Somos transportados como carga e não como induvíduos.
Pela propaganda, meu plano de saúde é o melhor do mundo e dá a entender que se houver qualquer problema com a saúde do cliente mandam um avião UTI e um helicóptero para socorrer. Na prática, muitas vezes é difícil conseguir autorização para um simples exame.
Sou cliente (era) há mais de 5 anos do maior site brasileiro de comércio eletrônico. Nesses anos todos, comprei muitas coisas por lá - TVs de plasma, câmeras digitais, hometheatre, computadores, aparelhos de som, uma infinidade de livros e DVDs, vinhos, etc. Depois de 5 anos aconteceu um problema com um produto comprado. Como não consegui atendimento, enviei um e mail para a central de atendimento deles mencionando meu longo relacionamento e informando que eu desejava apenas atenção e que, caso não obtivésse retorno, não compraria mais. Não recebi retorno nenhum.
Como indivíduos não temos mais importância nenhuma. Nem para fornecedores, nem para os meios de comunicação, muito menos para o governo ou políticos. Literalmente, todos desejam que a gente se exploda, individualmente. Só somos relevantes enquanto "massa", mas massa não tem nome, não tem endereço, não tem personalidade. Viramos um formigueiro humano, sem a organização social das formigas.
segunda-feira, 3 de agosto de 2009
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