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terça-feira, 8 de setembro de 2009

Molecagem corporativa

Tenho me repetido em alguns temas aqui no blog, mas acho válido.

Um dos temas sobre o qual já escrevi mais de uma vez é a comunicação humana. A capacidade de transmitirmos informação por sons é um dos fatores que nos diferencia dos animais.

O som emitido pelos animais é em sua maioria apenas barulho, com algumas informações rudimentares, como medo, dor, etc.

Ocorre que a humanidade percorre aceleradamente o caminho reverso da civilização, de forma que estamos conseguindo transformar os nossos sons em mero barulho, como os animais.

E como fazemos isto?

Ao desconectar da verdade o que é emitido por nossas cordas vocais.

O exemplo maior deste fenômeno é Lula. Nada do que ele fala é informação. Tudo é apenas barulho.

Mas infelizmente o fenômeno não se restringe a Lula. Ele apanha boa parte da população num processo de molecagem vocal. Falamos sem compromisso, falamos qualquer coisa, sem nos apercebermos de que estamos, nesses casos, produzindo apenas barulho, e regredindo.

E aqueles que, como eu, ainda tomam por compromissos assumidos as coisas que são faladas, são vistos com desconfiança como pessoas estranhas (sinto isto na pele).

Cerca de dez dias atrás a representante de uma empresa de Piracicaba me ligou. Precisavam de um trabalho. Para poder elaborar a proposta eu teria que visitar a empresa e entender detalhadamente a necessidade. Informei que estaríamos próximos de Piracicaba no final de setembro, e que aproveitaríamos a oportunidade para visitá-los. “Não podemos esperar até lá”, foi o que ouvi. “Nossa necessidade é urgente”.

OK, sendo a necessidade “urgente”, e sendo a empresa indicada por outra empresa que conheço, abri um espaço na minha agenda, comprei (por minha conta) a passagem aérea para Campinas para a noite do dia 8/9, reservei o carro alugado, sendo que a empresa de Piracicaba ficou de me enviar o endereço, o mapa, e a reserva de um hotel para a noite do dia 8. Passaria o dia 9/9 na empresa, retornando para minha cidade à noite, por Campinas. Tudo combinado, para mim compromisso assumido. Hoje, dia 8, já vim para o escritório com a minha mala.

Como não recebi o endereço da empresa, nem o mapa, muito menos a reserva de hotel, liguei para o contato em Piracicaba. “Olha, eu ia te ligar mesmo, é que a diretoria resolveu deixar este projeto mais para a frente, me desculpe”.

Como é que é? Então a empresa me liga dizendo que o trabalho é urgente, e a diretoria não havia sequer avaliado sua prioridade?

E ia me ligar avisando da mudança de planos quando? Quando eu já estivesse no aeroporto ou, pior, quando eu já estivesse em Campinas?

São uns moleques. O mundo corporativo não é imune à molecagem contemporânea.

Ter uma pessoa como Lula na presidência da república é apenas uma das conseqüências do processo de desconstrução civilizacional que experimentamos. Lula não é causa. Ele pode até apressar o fenômeno, mas sua própria eleição já foi consequência de uma sociedade doente.

Lula é um retrato preciso do Brasil contemporâneo. É triste.

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