Espero que não seja um grito da 25ª hora, quando tudo está perdido. De qualquer forma, antes que se cumpra a promessa de eliminação anunciada em praça pública pelo presidente da República, peço a palavra. E espero que me seja concedida a mesma audiência dada à agressão nominal que me atingiu junto com milhões de companheiros de partido espalhados pelas 27 unidades da Federação.
Quero dispor da expectativa democrática a que, mal nos acostumamos, nos querem tirar, e reagir com legítima indignação à ameaça estúpida — e que se cumprirá, sem dúvida, quando for efetivada a prometida transformação deste pais em república bolivariana à moda do tão estimado “companheiro Chávez”. Então, a intolerância já terá sufocado os jornais e eliminado as redes de televisão “que transmitem novelas”, conforme prometeram os oradores na inauguração da primeira TV sindical, no ABC.
Por enquanto, porém, os cidadãos ainda podem reagir a agressões e provocações. Mesmo que venham do presidente República e apesar de proferidas em momento de explosão de ódio político para constranger o povo de Santa Catarina. Ela são inaceitáveis num chefe de estado no exercício do mandato — e que, portanto, não pode e não deve discriminar uma parcela dos seus cidadãos, prometendo fazê-los desaparecer como expressão política legítima de uma parcela da população.
Na última segunda feira, 13 de setembro, em Santa Catarina o presidente abandonou o triunfalismo absolutista — de que tem usado e abusado como se fosse um ditador anedótico de republiqueta — para favorecer o PT e aliados e foi além. Especificamente, deixou de atender a recomendações que o bom senso aconselha a quem quer que se apresente ao povo de Santa Catarina. No seu discurso em Joinville, ele incidiu em quatro preceitos que, de nenhuma maneira, poderia ter violado:
1º - Não faltar à verdade;
2º - Não reinaugurar obras;
3º - Não desrespeitar as famílias catarinenses, pois, terra de emigrantes, todos sabem quem são de onde vieram e como construíram suas vidas:
4º - Não ingerir excessivamente bebidas alcoólicas antes dos discursos em comícios…
Por que faço política com idéias — respeito com rigor quem pensa diferente e até me honro de ter amigos entre eles —, não me envolvo com a violência, com corrupção nem contemporizo com ladrões públicos. Orgulho-me de haver participado da fundação da Nova República, em 1985, com o reconhecimento dos que a criaram de fato, como Tancredo Neves e Ulysses Guimarães, quando muitos a renegaram para depois dela usufruir. Pouco me importa não contar com a simpatia de presidente.
Estamos em campos diametralmente opostos, do ideológico ao ético, e nunca estivemos juntos em coligações ou projetos. Acho que tal divergência é legítima, democrática, e a República é suficientemente tolerante para que convivamos civilizadamente. E não há nada que a Constituição, a Justiça e eleições livres e periódicas não dirimam. O respeito, porém, é essencial e indispensável, e não é conferido aos presidentes da República o direito de explosões grosseiras, difamatórias, ameaçando cidadãos e partidos adversários de eliminação.
Finalmente, quando disse, em Santa Catarina, que “conhece os Bornhausen”, sugerindo ter a chave de segredos privilegiados e suspeitas ignominiosas, o presidente cometeu um ato de extrema presunção. Raro será o catarinense, em todos os partidos, regiões e classes, que não conheça os Bornhausen, uma família que, através de gerações, não renega o passado de trabalho dos seus fundadores, emigrantes como meus avós. E sempre contei com respeito de todos, retribuindo-o.
Mais do que o protesto, de que tomo a iniciativa por considerá-lo indispensável, já que a agressão foi pública e insolente, quero lamentar profundamente a falta de compostura e civilidade de quem deveria se orgulhar de ser o presidente de todos os brasileiros, mas que optou por se tornar um raivoso chefe de facção, mesmo que eventualmente majoritária, pois, em termos democráticos, os mandatos têm tempo e atribuições limitadas. Por exemplo, não lhe confere o direito de eliminar os adversários e extinguir partidos.
terça-feira, 14 de setembro de 2010
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