Li um livro muito bom - Pós-Guerra, de Tony Judt. O livro narra a história da Europa a partir do fim da 2a guerra mundial, até 2005; Excelente leitura.
Aos poucos colocarei alguns trechos interessantes do livro aqui no blog.
Inicio que um trecho que está nas páginas 146 e 147, e que trata das artimanhas do partido comunista para assumir o poder no países do leste europeu, onde o pensamento comunista era minoria.
"O empecilho mais sério às ambições comunistas eram os partidos socialistas e socialdemocratas locais, que compartilhavam as ambições reformistas do próprio comunismo. Na Europa Central não era fácil acusar socialdemocratas de facismo ou colaboracionismo - os membros desses partidos tinham sido vítimas da repressão, tanto quanto os comunistas. E, até onde existia um eleitorado composto por uma classe operária industrial num leste europeu predominantemente rural, a aliança dessa classe era com o socialismo, não com o comunismo. Por conseguinte, já que os socialistas não seriam facilmente derrotados, os comunistas preferiram a eles se unir.
Ou melhor, optaram por fazer com que os socialistas se unissem a eles. Tratava-se de um venerável procedimento comunista. A tática inicial de Lenin, de 1918 a 1921, tinha sido rachar os partidos socialistas da Europa, separando a esquerda radical em novos movimentos comunistas, e denunciar os demais integrantes como reacionários e retrógrados. Porém, quando ao longo das duas décadas seguintes os partidos comunistas se viram em minoria, Moscou mudou a abordagem, e os comunistas passaram a oferecer aos partidos socialistas (geralmente mais numerosos) a perspectiva de "união" da esquerda - mas sob a égide comunista. Nas circunstâncias da Europa Oriental pós-libertação, para muitos socialistas, a proposta parecia sensata.
Mesmo na Europa Ocidental, alguns integrantes dos partidos socialistas da França e da Itália com tendências de esquerda foram seduzidos pelo apelo comunista, a favor de uma fusão que consolidasse o poder político. Na Europa Oriental, a pressão se mostrou, literalmente, irresistível. O processo começou na zona soviética da Alemanha, onde (numa reunião secreta realizada em Moscou, em fevereiro de 1946) os comunistas deliberaram a favor da fusão com seus "aliados" socialistas, bem mais numerosos. Tal fusão foi consumada dois meses depois, com o nascimento do Partido da Unidade Socialista (era típico dessas fusões que o termo "comunista" fosse evitado pelo novo partido unido). Diversos ex-líderes dos socialdemocratas na Alemanha Oriental mostraram-se favoráveis à fusão e receberam cargos honorários no novo partido, e, subsequentemente, no governo da Alemanha Oriental. Socialistas que protestassem ou se opusessem ao novo partido eram denunciados, expulsos e, no mínimo, expurgados da vida pública ou exilados.
No restante do bloco soviético essas "uniões" entre comunistas e socialistas, com estruturas similares, surgiram um pouco mais tarde, no decorrer de 1948 .... àquela altura os partidos socialistas já haviam rachado, precisamente em torno do problema das fusões, de maneira que, muito antes de desaparecerem, eles já tinham deixado de constituir poderes políticos efetivos em seus respectivos países. E a exemplo da Alemanha, antigos socialdemocratas que ficaram do lado dos comunistas foram devidamente recompensados com títulos vazios...
No Leste Europeu, os socialdemocratas achavam-se numa situação absurda. Socialistas ocidentais os incentivavam a se unir aos comunistas, fosse na crença inocente de que todos se beneficiariam, fosse na esperança de moderar o comportamento comunista. Ainda em 1947 partidos socialistas independentes da Europa Oriental (i.e. socialistas que se recusavam a colaborar com comunistas) erma impedidos de ingressar em organizações socialistas internacionais, sob a alegação de que tais partidos eram um impedimento à aliança das forças "progressistas". Nesse ínterem, em seus próprios países, esses partidos eram submetidos à humilhação e violência. Mesmo depois de aceitarem a proteção comunista, sua situação pouco melhorou...
Depois de dizimar, aprisionar ou cooptar os seus principais opositores, os comunistas sairam-se bem melhor nas eleições de 1947, e dali em diante; mas isso ocorreu também devido aos violentos ataques deferidos contra oponentes que ainda restassem, devido à initimidação nas zonas eleitorais e à contagem de votos escandalosamente fraudulenta. Seguiu-se então a formação de governos nos quais o partido comunista (ou os recém formados "Partido do Trabalhador", ou "Partido da União") passou a ser absolutamente dominante: parceiros de coalizão, se é que existiam, ficavam reduzidos a funções triviais, esvaziadas. Condizendo com essa transição - de coalizões de frente a monopólio comunista de poder - a estratégia soviética, ao longo de 1948 e 1949 reverteu para uma política radical de controle por parte do estado, coletivização, destruição da classe média e expurgo e punição de adversários reais e imaginados."
Que lições podemos tirar do trecho acima?
- O objetivo dos comunistas é sempre o poder, a qualquer custo, mesmo que tenham que se "aliar" com adversários;
- Os "aliados" dos comunistas nunca passam de massa de manobra, a serem descartados assim que não forem mais necessários;
- Se necessário, mudam o nome do partido, tiram a palavra "comunista" e mudam, por exemplo, para "dos trabalhadores";
- Assim que têm o poder consolidado, mostram os dentes.
Seria bom os partidos da base aliada de Lula lerem este livro.
Seria bom Arthur Virgílio ler este livro.
domingo, 15 de fevereiro de 2009
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Obrigada por compartilhar conosco o que você está lendo.
ResponderExcluirVocê tem escrito bastante, heim?
Não desanime se não tiver muitos leitores por enquanto. Dada a sua constante e qualificada produção, eles virão.