Respeito profundamente as opiniões de Reinaldo Azevedo. Sou admirador mesmo. Houvesse uma meia-dúzia de “reinaldos” e o Brasil já seria um país melhor.
Em seu blog hoje Reinaldo diz que erram os que afirmam que Lula é um fenômeno de mídia. Com todo o respeito, vou me permitir discordar.
Lula é um fenômeno de mídia, e o é porque o Lula que vemos na televisão é um personagem de ficção. Personagem este cuidadosamente construído desde o final da década de 1970, mas mesmo assim, de ficção. Só existe na mídia, e a mídia o alimenta, e se alimenta dele, numa espécie de simbiose.
É como um mocinho de filme de faroeste, valente, que enfrenta todos os inimigos em nome da justiça, ou como um herói de romance pelo qual nos apaixonamos. Só existem na tela ou na página do livro.
O caso de Lula é único porque misturou ficção com realidade. Nos EUA havia uma série de televisão de sucesso chamada The West Wing. Nela o ator Martin Sheen interpretava com muito realismo o papel de presidente. Muitos espectadores, encantados com sua justiça e heroísmo, deveriam até imaginar – “ah, se ele fosse mesmo o presidente”.
O Brasil foi além dos EUA. Juntou num só programa a ficção com o reality show. O nosso Martin Sheen efetivamente assumiu o cargo de presidente da república. E todo o dia a televisão e os jornais nos mostram as suas aventuras. É como uma novela de oito anos, ou mais, mais longa que O Direito de Nascer....
Como num bom folhetim, tudo precisa de dinâmica, os assuntos não podem cansar. Então Lula está sempre se movimentando, sempre viajando, e sempre anunciando suas ações, que nunca passam de anúncios. O herói vai catalisando todos os sucessos, e ao mesmo tempo afastando de si todos os fracassos. O personagem presidente Lula só acerta, só pensa no bem do próximo. Quando há um erro é culpa dos outros e ele não sabia de nada. Anuncia a transposição do São Francisco (como diz Reinaldo). Aí o assunto cansa, a audiência começa a cair, e logo Lula anuncia o PAC. Aí o assunto cansa, a audiência começa a cair, e Lula anuncia o pré-sal. Aí o assunto cansa, a audiência começa a cair, e Lula anuncia o PAC de novo, e assim infinitamente.
A massa, encantada, assiste diariamente a este folhetim sem perceber que está assistindo ... um folhetim. Fantástico. Nunca um autor ou diretor da Globo teve uma idéia tão genial.
Mas para concluir este texto, e reiterar porque eu me incluo entre os que afirmam que Lula é um fenômeno de mídia – porque é um personagem, e como personagem não possui existência real, substância física, sua existência se dá apenas no âmbito da mídia. Como Sinhozinho Malta, Viúva Porcina ou Odorico Paraguassu.
quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009
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